Título: Morto foi acusado de operar o mensalão
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - Jaz no Campo da Esperança, cemitério da capital do País, Pedro Ribeiro Barbosa, que a CPI dos Correios investiga como operador do mensalão dentro do Partido Progressista (PP). Maranhense de Vitorino Freire, profissão contador, Barbosa morreu no ano passado, a 10 de setembro, vítima de enfarto, aos 63 anos. Deixou viúva, Maria Rodrigues Barbosa, 3 filhos, 3 netos, e dívidas.

Barbosa entrou no rol dos suspeitos no dia 29 de julho passado, quando João Claudio de Carvalho Genu depôs à Polícia Federal e lhe atribuiu papel de suma importância na escalada de saques em espécie no Banco Rural, caixa do esquema.

Chefe de gabinete de José Janene (PP-PR), deputado apontado como um dos principais beneficiários das mesadas no Congresso, João Genu foi pilhado no rastreamento do Banco Central como um dos maiorais dos saques - de 17 de setembro de 2003 a 5 de julho de 2004, retirou R$ 4,1 milhões. Só ficou atrás do PT nacional, que sacou R$ 4,9 milhões, do líder do PL, Valdemar Costa Neto (R$ 10,8 milhões) e de Duda Mendonça, que levou R$ 15, 5 milhões.

Na PF, Genu procurou se safar e apontou um único responsável pelo esquema no partido - falou então de Barbosa, a quem emprestou perfil de poderoso, sujeito influente na cúpula do partido. Cabia a Barbosa, afirmou Genu, fazer os contatos decisivos com Simone Reis de Vasconcelos, braço direito do empresário do mensalão, Marcos Valério Fernandes de Souza. "Os recebimentos eram realizados conforme orientação do tesoureiro do PP, o Barbosa", disse Genu à PF. "Ele telefonava, dizia da necessidade de sacar o dinheiro e mandava que eu ligasse para a Simone."

O chefe de gabinete declarou que só ia pegar o dinheiro "após confirmação expressa" de Janene e do presidente do partido, Pedro Correa (PE).

O delegado federal Luís Flávio Zampronha de Oliveira, que dirige inquérito sobre corrupção nos Correios e o repasse de dinheiro para os parlamentares, cobrou de Genu mais detalhes sobre a atuação e a identidade do tesoureiro. "Não sei o nome completo dele", esquivou-se Genu, que ocultou das autoridades a morte de Barbosa.

O álibi de Genu chegou ao conhecimento da família do finado. "É fácil demais falar de quem já morreu", protesta Cyntia, de 33 anos, filha do meio do contador Barbosa. Ela trabalha no escritório Cometa, modestamente instalado no centro de Taguatinga, cidade-satélite de Brasília.

"Somos gente simples, ficamos chocados", conta Cyntia. "Papai era advogado e contador, mas não era exclusivo do PP. Ele nunca foi funcionário do partido, só fazia a contabilidade. Ia lá uma vez por mês, às vezes eu ia junto. Era no 17.º andar do Senado. A gente falava com a secretária mesmo, só pegava os documentos e pronto."

O Barbosa a quem João Genu transferiu poderes e o comando do mensalão no PP chegou ao Distrito Federal ainda moço. Sujeito esforçado, tinha 20 anos de idade, mas não uma profissão definida. Foi engraxate, entregador de pizza e garçom. Com as economias que fez, estudou, entrou na faculdade e venceu na vida. Há 30 anos abriu o escritório Cometa, e constituiu boa clientela.

PASTOR

Conheceu Maria na Igreja. Barbosa era pastor da Assembléia de Deus. Mineira de Presidente Olegário, ela deu 3 filhos ao contador. "É uma grande maldade o que fizeram porque papai não está aqui para desmentir essa acusação, para desmascarar isso tudo", desabafa Cyntia. "Papai era homem honesto, não temos nada a esconder. Nossa renda é pequena, a gente tem dívidas mas estamos tocando o escritório com um bom serviço. É tudo o que papai deixou."

A família não conhece João Claudio Genu. "Não conheço ninguém dessa história", fala Cyntia. "Soubemos agora dessas coisas com as denúncias do Jefferson (Roberto Jefferson, do PTB do Rio, que revelou o esquema)."

O contador morreu às 22h30 de 10 de setembro, atestou o dr. João Augusto de Luna. A certidão de óbito, que põe abaixo a estratégia do sacador de R$ 4,1 milhões, está no livro C-98, às folhas 392, do 1.º Ofício de Registro Civil de Brasília.

Na direção do PP, ninguém fala de Barbosa. "Não conheço esse sr. Barbosa", disse o deputado Leodegar Tiscoski (PP-SC), que assumiu a tesouraria da agremiação em maio de 2005. Não tive contato. Ele (Cometa) presta serviço contábil, mas não conheço esse pessoal."