Título: Depois do exílio, apenas um líder regional
Autor: Angela Lacerda e Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Nacional, p. A17
A carreira de Arraes depois do exílio não repetiu, nem de longe, o brilho de seus primeiros anos. O homem que uma alegre multidão carregou nos braços no aeroporto do Rio de Janeiro, no dia 15 setembro de 1979, era bem mais cauteloso e reservado do que o que partira a 22 de maio de 1965. "Não tenho do que me arrepender nem guardo ressentimentos", dizia na chegada. "Não sou radical, radical é a situação do Nordeste." Coladas em sua biografia estavam também histórias de que no exílio despertou mais queixas do que admiração. Bem recebido pelo presidente argelino Houari Boumedienne, ele se tornou uma espécie de assessor de exilados brasileiros, fundou um movimento de resistência e circulava com freqüência, muito à vontade, entre Argel e Paris.
No Recife, Arraes não demorou a perceber que os tempos eram outros. A eleição de 1982, que imaginou ser "sua", já estava resolvida entre os oposicionistas: o candidato do PMDB seria o senador Marcos Freire. Só em 1986 ocorreu o glorioso retorno ao poder. Nesse ano, ajudado por uma aliança à direita, teve cerca de 1,5 milhão de votos e derrotou o candidato do PFL, José Múcio Monteiro.
O moderado Arraes surpreendeu os militares, então, ao procurar o chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), general Ivan de Souza Mendes, e pedir-lhe que indicasse um secretário de Segurança. "Estive fora muito tempo, gostaria que o sr. ajudasse", disse. "Se houvesse ainda alguma desconfiança em relação ao seu nome, ela está totalmente afastada, governador", garantiu-lhe o ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves.
SÓ UMA VOZ A MAIS
Governador bem-sucedido, ele não recuperou, no entanto, o papel de destaque no primeiro plano da política nacional: era um líder a mais, e estritamente regional. Deixou então o PMDB e foi presidir um PSB sem peso político.
Seu terceiro governo foi marcado, entre 1998 e 2002, por uma denúncia de uso irregular de dinheiro dos precatórios. O total dos títulos emitidos chegava a R$ 400 milhões. O episódio lhe custou uma derrota antes impensável, por mais de 1 milhão de votos, para Jarbas Vasconcelos. Em dezembro de 2003, ele foi inocentado pelo STF, mas o eleitorado não tinha muito o que comemorar: o velho ídolo já não era um mito.