Título: O longo caminho de 12 km até Gush Katif
Autor: Maria Teresa de Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Internacional, p. A18

GUSH KATIF, FAIXA DE GAZA - Dezenas de colonos judeus religiosos tentam todos os dias atravessar as barreiras do Exército israelense para entrar em Gush Katif, o maior bloco de assentamentos, situado no sul da Faixa de Gaza. Semanas atrás, para impedir a passagem de extremistas de direita, o Exército declarou a região zona militar fechada. Até sexta-feira parentes de colonos podiam entrar. Agora, só pessoas com autorização especial, como é o caso de provedores de serviços básicos. Quem tenta entrar ilegalmente em geral são jovens e adolescentes israelenses moradores de colônias de religiosos em Jerusalém ou na Cisjordânia. Vão de carona ou no carro de amigos. Muitos usam identidades emprestadas por moradores de Gush Katif ou dão números falsos de documentos. E, quando são pegos, ficam presos ou acabam liberados depois de ouvir reprimendas.

Entre as rodovias que conduzem da cidade israelense de Sderot, a noroeste da Faixa de Gaza, ao checkpoint de Kissufim, porta de entrada para Gush Katif, há quatro postos de controle militar. Em todos eles os soldados pedem documentos, olham bem para os passageiros e perguntam o destino.

No último, em Kissufim, formam-se várias filas de carros com motoristas irados. Aqui é feita de fato a triagem por soldados sempre com metralhadoras nas mãos e policiais que revistam os bagageiros para flagrar penetras. Documentos agora são examinados com cuidado. Mesmo assim, oficiais do Exército admitem que mais de 2 mil ativistas conseguiram entrar em Gush Katif, alguns porque usavam uniformes militares.

Depois, a longa estrada de 12 quilômetros até Gush Katif (ver mapa à esquerda). Os poucos quilômetros parecem eternos para quem não é da região porque esta é uma área de risco. A rodovia israelense atravessa áreas autônomas palestinas onde atuam grupos extremistas. Por isso, no auge da intifada era alvo de disparos freqüentes e também de atentados a bomba. Ainda este ano houve mortos em ataques a carros que passavam à noite. Em toda sua extensão há restos de casas de palestinos demolidas por tropas de Israel, que alegaram que eram usadas por franco-atiradores.

Do lado esquerdo fica o campo de refugiados de Khan Yunis e do direito, a cidade e o campo de El-Burej. Entre a estrada e esses povoamentos palestinos há cercas, postos de controle israelenses e, de vez em quando, tanques apontando para El Burej ou Khan Yunis. Na ponte sobre a rodovia palestina de El-Salahudin, que corta a Faixa de Gaza de norte a sul, o Exército de Israel pôs blocos de concreto dos dois lados. Do lado de baixo, policiais palestinos agora fazem a segurança.