Título: 'Chegamos para a festa'
Autor: Maria Teresa de Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Internacional, p. A18

MOSHE HAIM, DE 18 ANOS, E

ELIHAN YAKOV, DE 19 ANOS

Estendidos no gramado da praça principal de Gush Katif, eles dizem se chamar Moshe Haim, de 18 anos, e Elihan Yakov, de 19, moradores de assentamentos judaicos na Cisjordânia. As idades devem ser verdadeiras, mas os nomes, com certeza, são falsos porque os dois entraram ilegalmente na colônia e não querem ser identificados. Dizem que chegaram de carro para a festa. "Tudo vai dar certo. É difícil pensar nessa situação. Não sei bem o que vou fazer na hora. Minha idéia é abraçar os soldados e dizer: 'Esta é minha casa. Gosto de vocês'." A impressão que dá é que 'Moshe' e 'Elihan' não tinham nada para fazer nas férias escolares israelenses e resolveram se unir aos colonos no protesto contra a retirada da Faixa de Gaza. São garotos religiosos, moram em comunidades religiosas na Cisjordânia e estão dormindo nas casas de moradores de Gush Katif, como também outras centenas de jovens com o mesmo perfil. "Os acordos de paz de Oslo (que resultaram em autonomia para algumas regiões palestinas) não trouxeram nada de bom", diz 'Moshe'. "Não acredito que haverá paz." Os dois entrarão no Exército no ano que vem e dizem que não saberão o que fazer caso sejam convocados para uma operação de retirada de colonos como esta.

A universitária Esther Galatz, de 20 anos, moradora de uma colônia perto de Jerusalém Oriental, usa uma camiseta laranja com os dizeres: "Quem ousa lutar contra o rei? Deus é o rei!" Conta que chegou na terça-feira e ficará até a "festa da vitória". "Os soldados são legais e as pessoas dizem que alguns passarão para o nosso lado. Mas acho que a polícia vai ser violenta", afirma Esther. Ela tem um jeitinho ingênuo, meigo. Foi até Gush Katif movida pela fé e não se conforma que Sharon "entregue a terra do povo judeu". Também garante que sua resistência será pacífica.

Apesar de todos dizerem que não confrontarão o Exército, o governo teme problemas especialmente com os ativistas da extrema direita e uma minoria de jovens radicais. A Justiça israelense prendeu nas últimas semanas mais de 500 jovens entre 13 a 18 anos que bloquearam estradas. Alguns chegaram a jogar tachinhas e óleo em rodovias e 10 permanecem detidos.