Título: 'Sharon faz uma limpeza étnica'
Autor: Maria Teresa de Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Internacional, p. A18

BROR VANUNU, DE 29 ANOS

Comentaristas na imprensa israelense dizem que em pelo menos 11 das 21 colônias judaicas da Faixa de Gaza os líderes locais já negociam uma forma de remoção pacífica da população, mas oficialmente eles continuam negando e criticando o governo. Na prefeitura de Gush Katif, as autoridades dizem que não vão fazer nada para organizar a saída dos colonos. "Não vamos encorajar ninguém a sair", diz Bror Vanunu, diretor de Assuntos Comunitários, cargo que abrange atividades sociais, humanitárias e religiosas. "Espero que este desastre não aconteça. Isso que Sharon está fazendo é uma limpeza étnica, um grande erro. Ele se tornou o líder da esquerda", diz, irritado. "Sharon afirmou que depois de 2005 não haverá mais judeus em Gaza. Já imaginou o presidente Jacques Chirac dizer que a partir de determinado ano não haverá franceses numa região da França?" Vanunu admite ter votado em Sharon e agora o acusa de ter usado seu eleitorado para promover uma política que incentivará o terrorismo.

"Todo mundo conhece os terroristas de Gaza. Eles não estão pensando em abrir filiais da Microsoft depois da retirada israelense. Vêem isto como uma derrota de Israel. Imagina se depois do 11 de setembro George W. Bush decidisse abandonar Manhattan? No mês que vem, Osama bin Laden será o presidente de Gaza", enfatiza Vanunu, num tom sério, de advertência.

Diante de uma questão mais prática, o destino dos moradores depois da retirada, Vanunu reitera que a prefeitura não vai encorajar a "limpeza étnica". Mas critica o governo Sharon por não ter preparado com antecedência os locais para a transferência dos colonos. A cidade que será construída em Netzarim, à beira-mar, ao sul de Ashkelon, levará pelo menos cinco anos para ser construída, diz Vanunu. Enquanto isso, os moradores que não têm para onde ir viverão em casas pré-fabricadas, kibutz e outras acomodações provisórias.