Título: Petrobrás chega a 6,4 mil metros de profundidade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Economia & negócios, p. B4

É um recorde que pode abrir uma nova fronteira: estatal alcançou a camada onde ficam as rochas geradoras de petróleo

RIO - A Petrobrás anunciou que bateu ontem seu recorde de profundidade na perfuração de poços exploratórios, atingindo 6,4 mil metros e chegando, pela primeira vez, à camada "pré-salina" - faixa do subsolo onde ficam as rochas geradoras de petróleo e gás. O feito foi alcançado na Bacia de Santos e, segundo a estatal, pode abrir uma nova fronteira exploratória no País, num nível abaixo dos reservatórios conhecidos até agora. No mercado, alguns geólogos acreditam que pode haver uma nova Bacia de Campos abaixo da maior bacia produtora do País, cujas reservas rondam a casa dos 10 bilhões de barris de petróleo e gás. Esses reservatórios se estenderiam até o Norte da Bacia de Santos e, na outra ponta, ao Sul do Espírito Santo, especulam alguns geólogos.

A estatal não informou se encontrou reservas no local nem deu entrevista, alegando que poderia criar expectativas no mercado financeiro. O recorde de profundidade foi obtido no bloco exploratório BM-S-10, onde a Petrobrás tem parceria com a britânica BG e a portuguesa Partex. Embora fique na Bacia de Santos, o BM-S-10 está localizado a 200 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro.

Em 22 de junho, a empresa anunciou à Agência Nacional do Petróleo (ANP) a descoberta de indícios de óleo e gás na área, a partir da perfuração do mesmo poço que ontem atingiu o recorde. Não há informação sobre o volume encontrado, mas especialistas acreditam que o anúncio se refere a reservatórios em profundidades mais rasas.

Geólogos consultados pelo Estado informaram que a estatal não tentou antes chegar à profundidade atingida ontem pelo alto custo dos poços, que pode superar US$ 30 milhões. A empresa preferia focar os esforços na busca por reservas em áreas mais conhecidas e com menor risco exploratório. A aquisição de dados geológicos em altíssimas profundidades é prejudicada por uma camada de sal, que fica abaixo do nível de onde hoje se extrai o petróleo brasileiro, explicam os especialistas.

Atualmente, o petróleo no País é retirado de reservatórios acima dessa camada, a cerca de 3 mil metros de profundidade, para onde o óleo migrou por fendas no sal, ficando armazenado em rochas porosas. Abaixo do sal, está a rocha que gerou o petróleo, a partir de sedimentos animais e vegetais que ficaram soterrados após a separação dos continentes americano e africano.

A presença de petróleo de boa qualidade e gás natural é considerada certa em rochas geradoras, sob o argumento de que nem tudo que foi gerado conseguiu migrar para camadas mais rasas do subsolo. Resta saber onde ficam os reservatórios e se há reservas em volumes comerciais, pondera um especialista.

A Petrobrás informou, em nota, que os trabalhos exploratórios no BM-S-10 custarão US$ 50 milhões. E comemorou a descoberta dizendo que pode ter encontrado uma nova fronteira exploratória no País. A curva de produção da Bacia de Campos está prestes a entrar em declínio e há um esforço para descobrir novas bacias.