Título: Venezuela retira imunidade de agentes dos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Internacional, p. A18

Funcionários antidrogas de Washington não terão mais privilégio diplomático

CARACAS - Em meio à escalada de tensão nas relações bilaterais entre a Venezuela e os Estados Unidos, o governo venezuelano anunciou ontem a retirada da imunidade diplomática de agentes da DEA - a agência antidrogas americana - que atuam no país. O vice-presidente José Vicente Rangel afirmou que a decisão é uma resposta à ação de Washington, que cassou o visto de entrada nos Estados Unidos de seis membros da Guarda Nacional da Venezuela, incluindo o do chefe do Comando Antidrogas, general Frank Joaquín Morgado González.

O mais recente embate entre os dois países começou no domingo. Durante seu programa de TV semanal, o presidente Hugo Chávez acusou agentes da DEA de realizar atividades de espionagem na Venezuela e anunciou a suspensão das atividades da agência no país para que o acordo bilateral com os Estados Unidos sobre o combate às drogas fosse revisado.

A cassação dos vistos de entrada nos Estados Unidos dos militares venezuelanos foi informada por meio de uma fonte diplomática citada anonimamente pelo jornal de Caracas El Nacional e confirmada posteriormente pela embaixada dos Estados Unidos. Rangel considerou o procedimento "inaceitável", argumentando que "casos dessa natureza devem ser tratados pelos canais diplomáticos regulares".

No exercício da presidência enquanto Chávez realizava visita ao Brasil, Rangel disse que Washington está "preparando o terreno" para retirar da Venezuela a certificação anual de cooperação na luta contra as drogas, emitida pela DEA.

Rangel declarou ainda que Caracas não quer romper relações diplomáticas com os Estados Unidos e "não cairá em provocações", mas responderá "a cada ataque" - como qualificou a medida contra os oficiais da Guarda Nacional.

"Existe uma escalada do governo americano cuja meta final é a ruptura (das relações), mas não vamos cair em provocações", afirmou Rangel. "Não contribuiremos para o rompimento que alguns falcões de Washington parecem buscar. O governo venezuelano, no exercício dos direitos que lhe correspondem, agirá com serenidade e responsabilidade, mas com muita firmeza nestes temas."

Rangel também voltou a mencionar um possível plano apoiado pelo governo americano de assassinar Chávez - acusação negada veementemente pelo embaixador dos Estados Unidos no país, William Brownfield. "O certo é que continuam circulando versões de que Washington apoiaria um assassinato em nosso país e esperamos que essa negativa se apóie nos fatos", completou Rangel.