Título: Londres proíbe retorno de radical
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Internacional, p. A18

O religioso muçulmano Omar Bakri Mohammed, que está no Líbano, teve o visto de residência britânico cassado

LONDRES - Acusado de fazer apologia do terrorismo, o clérigo muçulmano radical Omar Bakri Mohammed não poderá mais retornar à Grã-Bretanha. Aproveitando a ida dele a Beirute, no Líbano, na semana passada, o Ministério do Interior britânico cassou ontem o visto de residência permanente no país que lhe havia concedido 20 anos atrás. "A presença de Omar Bakri Mohammand em território britânico é contrária aos interesses públicos", disse o ministro do Interior, Haze Blears. "Foi uma decisão pragmática", definiu.

Blears disse que a medida não afeta a família do clérigo, que vive em Londres. Bakri (como é conhecido na comunidade islâmica) é pai de sete filhos, nascidos na Inglaterra.

A atenção da Scotland Yard voltou-se para Bakri quando um movimento islâmico criado por ele, Al-Muhadjirun, aplaudiu os ataques terroristas de 11 de setembro de 2003 nos EUA. Bakri, por sua vez, teria qualificado os 19 terroristas suicidas que participaram dos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono de "os 19 magníficos".

O movimento foi proscrito e clérigo passou a ser vigiado de perto pelas forças de segurança. Mesmo assim, costumava definir a Grã-Bretanha em pregações religiosas como "zona de guerra".

Bakri chegou a Beirute no sábado passado "para gozar férias". Entrevistado pela imprensa local, manifestou intenção de retornar a Londres no fim do mês. Jurou jamais ter exaltado a violência ou elogiado os ataques terroristas nos Estados Unidos. E negou envolvimento com a Al-Qaeda. Mas, segundo a polícia britânica, ele mantém estreitos vínculos com o clérigo Abu Qatada, considerado líder espiritual da Al-Qaeda na Europa e detido em Londres na quinta-feira com outros nove estrangeiros "indesejáveis".

Três dias depois da chegada a Beirute, Bakri, cidadão libanês nascido na Síria, foi preso pela polícia libanesa, que não deu os motivos. Ontem pela manhã foi libertado por um juiz sob o argumento de que sua ficha no Líbano é limpa. Na Síria, no entanto, Bakri tem contas a ajustar com a Justiça. É acusado de envolvimento em atos terroristas no início dos anos 80.

No começo da noite de ontem, circularam rumores em Beirute de que ele fora novamente detido a pedido das autoridades sírias, que estariam preparando um pedido de extradição.

Quanto a Qatada, vai ser extraditado para a Jordânia, que o condenou à prisão perpétua, à revelia, por envolvimento em atentados. A chancelaria jordaniana informou ontem que deve apresentar pedido à Justiça britânica na próxima semana. Os demais nove detidos estão sob ameaça de deportação. Mas processo é demorado. Cabem recursos a instâncias superiores.