Título: Sharon admite retirar mais colônias
Autor: Maria Teresa de Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Internacional, p. A16

Mas ressalva que novas remoções, de assentamentos isolados na Cisjordânia, só serão tratadas na última etapa das negociações

TEL-AVIV - O primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, admitiu ontem que "nem todos os assentamentos judaicos da Cisjordânia permanecerão", mas ressaltou que novas retiradas de colônias isoladas só serão tratadas "na última etapa das negociações com os palestinos". Sharon, no entanto, não quis mencionar quais assentamentos estão sujeitos à desocupação. Na atual etapa, está prevista a desocupação da Faixa de Gaza e de quatro assentamentos na Cisjordânia, que entrará na sua fase final na semana que vem. O pronunciamento feito ontem por Sharon é importante porque alimenta a expectativa de novas devoluções. Indica que o desalojamento de colonos pode continuar no futuro em outras partes da Cisjordânia. À medida que se aproxima o fim do prazo para os colonos judeus saíam voluntariamente da Faixa de Gaza e dos quatro assentamentos na Cisjordânia, aumenta o número de famílias que procuram as autoridades israelenses para assinar um acordo. A estimativa é que esse total se ampliará nas próximas 48 horas, apesar de as entidades dos colonos terem planos de levar mais de 100 mil pessoas na segunda-feira para o posto de controle de Kissufim, porta de entrada para o principal bloco de assentamentos na Faixa de Gaza. Seu objetivo será barrar a passagem dos cerca de 40 mil soldados e policiais mobilizados para a retirada. Também há mais de 2 mil pessoas infiltradas nas colônias, entre parentes, amigos e ativistas de direita, prontas para impedir a remoção. Esse grupo inclui extremistas que poderão recorrer à violência.

No entanto, os motivos para aceitar o acordo são fortes. Se os colonos não saírem por conta própria até quarta-feira, perderão um terço da indenização estatal por suas propriedades e serão removidos à força pelo Exército e a polícia. Os militares e policiais passaram vários dias treinando no deserto do Neguev, sul do país, a operação para retirar moradores, pois se prevê a repetição de forte resistência de muitas famílias, como aconteceu em 1982, na colônia judaica de Yamit, no Sinai - desmantelada depois do acordo de paz de Israel com o Egito. Na segunda-feira, milhares de soldados entrarão nas colônias para anunciar formalmente a remoção. As forças de segurança se dividirão depois em 400 esquadrões, com equipes de 17 soldados e policiais. Na quarta-feira, cada uma entrará numa casa e retirará moradores e pertences. A meta é finalizar a operação em 4 de setembro.

Além disso, o Exército de Israel fechou na quinta-feira à noite as entradas para as colônias. Agora só residentes ou fornecedores de serviços básicos podem passar por Kissufim. A partir de amanhã o setor de segurança elevará o nível de alerta em todo o país para estado de emergência. E o chefe da polícia, general Moshe Karadi, disse aos jornalistas que avalia a possibilidade de baixar normas de restrição à movimentação pelas estradas, como medida para impedir a chegada dos manifestantes.

Segundo estimativas divulgadas pelo órgão encarregado de organizar a retirada israelense, denominada oficialmente de "plano de desengajamento" dos palestinos, 63% dos cerca 9.200 moradores já aceitaram o acordo. São 1.083 famílias de um total de 1.716. A proporção é maior nas quatro pequenas colônias ao norte da Cisjordânia: 222 das 230 famílias assinaram os documentos.

Na própria Faixa de Gaza, a maioria já deixou os assentamentos de Dugit, Alei Sinai e Nisanit, localizados no norte, na fronteira com Israel. Nessas colônias a presença de religiosos e ultranacionalistas é menor. Em Gush Katif, maior assentamento a ser esvaziado, representantes dos colonos firmaram ontem um acordo para vender 75% das estufas de cultivo por US$ 14 milhões. Uma fundação internacional privada comprou as estufas, que serão entregues à administração palestina.

Em lugares como Neve Dekalim e Kfar Daroum, no sul do território, os religiosos predominam e também há forte pressão da comunidade. Mesmo moradores propensos a sair pacificamente, que já buscaram informações com as autoridades, não falam do assunto em público, por temerem ser tachados de traidores. Perto de mil quartos de hotéis foram alugados nas cidades ao norte da Faixa de Gaza para alojar colonos que não tenham para onde ir.

Faltando poucas horas para a entrada das forças de segurança nas colônias e a grande marcha dos colonos e seus aliados para Kissufim, cresce em Israel o temor de que tudo desande, num cenário em que direitistas judeus recorram à violência e, do lado palestino, extremistas do grupo islâmico Hamas ponham fim à trégua e retomem os ataques de foguetes contra as colônias. O líder do Hamas, Mahmud Zahar, descartou ontem qualquer possibilidade de o grupo depor suas armas após a retirada de Gaza. E afirmou que o grupo prosseguirá "defendendo sua pátria enquanto não houver um único pedaço de terra palestina sob ocupação".