Título: CPIs vão devassar prefeituras do PT
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A15

Para Romeu Tuma, as gestões petistas "se transformaram em laboratório para o mensalão e uma arrecadação a nível nacional"

BRASÍLIA - Três CPIs deram início a uma devassa nas prefeituras sob gestão do PT envolvidas em esquemas de corrupção e fraudes contra o Tesouro. Deputados e senadores que integram as CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos vão mapear todos os contratos de compras e serviços fechados por administrações petistas que são alvo de investigação do Ministério Público. A principal suspeita é que o modelo adotado pelo publicitário Duda Mendonça para internação de recursos em paraísos fiscais tenha sido adotada por dirigentes ou colaboradores petistas a partir do fim dos anos 90.

"O objetivo é identificar quem montou esses esquemas em prefeituras do PT que se transformaram em laboratório para o mensalão e uma arrecadação a nível nacional", declarou o senador Romeu Tuma (PFL-SP), que integra as 3 CPIs. "Vamos rastrear os mentores e executores desses programas, identificar a linha de conduta desse grupo, como se formou e qual foi o tempo que levou para fechar as transações e remessas ao exterior." No início da semana, ele solicitou cópias de processos sobre improbidade nas prefeituras de Ribeirão Preto e Santo André, antigos redutos do PT marcados por desmandos e má gestão na avaliação do MP.

Monitoramento telefônico revela que o advogado Rogério Buratti fez ligações para a casa do ministro Antonio Palocci, da Fazenda, e da cafetina Jeany Mary Corner, apontada como organizadora de festas com garotas de programa patrocinadas pelo empresário do mensalão Marcos Valério. Buratti trabalhou no Grupo Leão & Leão, alvo de investigação da promotoria por supostas irregularidades em negócios com a administração Palocci, na prefeitura de Ribeirão.

Tuma solicitou à promotoria criminal de Santo André que remeta ao Senado cópias de ações e inquéritos sobre a atuação de empresários e políticos que teriam tomado conta de setores da prefeitura para desvios de recursos públicos e enriquecimento ilícito.

Os promotores de Justiça Amaro Thomé Filho e Roberto Wider, que investigam o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002, sustentam que "quadrilha organizada estável" encomendou o crime. Daniel foi morto porque teria decidido dar fim ao esquema de cobrança de propinas.

Eles informaram a Tuma que estão convencidos que o dinheiro da corrupção em Santo André abasteceu campanhas do PT, inclusive a de Lula, em 2002. O indício mais forte é o relato do oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito. Ele declarou ao MP que Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, lhe teria dito que em 2001 levou R$ 1,2 milhão em espécie para o então presidente do PT, José Dirceu - o ex-ministro da Casa Civil nega. "A convocação (para uma das CPIs) do irmão do Celso Daniel é muito importante para entendermos a extensão disso tudo", afirmou Tuma.

"Deve ter dinheiro no exterior, estão agindo há muito tempo. A suspeita é que administrações municipais do PT fizeram a experiência de arrecadação para montar um programa maior e se manter no poder com uma espécie de caixa-forte", completou o senador. "Para mim, esses grupos são aparelhos da velha ordem organizacional subversiva da qual ele (Dirceu) fazia parte."