Título: 'O que já era grave ficou gravíssimo'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A14

Para oposição, denúncia acentua crise, mas não garante processo de impeachment

BRASÍLIA - As revelações feitas à revista Época pelo presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, agravaram ainda mais a crise política, mas não a ponto de garantir a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Lula agora. É o que avaliam não só os aliados do governo, mas também os líderes dos partidos de oposição. "O que já era grave ficou gravíssimo, mas o que piorou mesmo não foi a situação de Lula, e sim a do vice-presidente José Alencar", disse o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN). "O envolvimento do presidente Lula nas irregularidades já era evidente antes da entrevista", emendou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), convencido de que nem mesmo as revelações de Costa Neto são suficientes "para alguém ficar imaginando que pode decretar o impeachment de Lula".

Ele e o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), acreditam que, por mais que as denúncias de Costa Neto agravem a situação, falta o elemento principal para abrir um processo. "Esse procedimento de impeachment não está na razão direta do envolvimento e da participação do presidente em fatos ilícitos. O que está faltando, evidentemente, são as ruas", diz Freire, referindo-se à opinião pública. "Este processo é político e ainda não há nenhuma evidência de que a ampla maioria da sociedade deseja o impeachment", concorda Goldman.

Pefelistas e tucanos acham que as provas de que o PT cometeu crime eleitoral em 2002 foram fornecidas na véspera pelo marqueteiro Duda Mendonça, ao revelar o esquema de sonegação e evasão de divisas. "O problema é que essa crise não tem fim. Pensei que as denúncias do Duda fossem durar uma semana e veio a entrevista do Valdemar menos de 24 horas depois", espantou-se o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Para Agripino, a denúncia complica a vida de Alencar e cria uma dificuldade a mais nas negociações de uma saída para a crise mais adiante. A seu ver, a notícia compromete a "chapa PT-PL", o que significa que, no eventual afastamento de Lula, Alencar também ficaria impedido de assumir a Presidência.