Título: Escândalo `ficou mais perto de Lula¿, diz NYT
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A14

Além do jornal americano, imprensa européia também vê aumentarem os riscos políticos para o presidente

O crescente escândalo de corrupção do Brasil "ficou mais perto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois que um auxiliar admitiu que pelo menos R$ 10,5 milhões, transferidos através de contas secretas no exterior, foram ilegalmente usados para financiar a campanha do PT em 2002". Assim o jornal The New York Times descreve, em sua edição de hoje, a crise política brasileira. Segundo o autor da reportagem, o correspondente Larry Rohter, esse auxiliar, o publicitário Duda Mendonça, admitiu que foi pago "pelo mesmo homem identificado como operador de um caixa dois R$ 70 milhões do partido" (Marcos Valério)".

"Era claramente dinheiro de caixa dois e nós sabíamos disso", avisou o publicitário no depoimento. A confissão de Duda Mendonça sobre os pagamentos irregulares, prossegue o Times, "é potencialmente mais danosa para o partido" - pois pode levar à cassação de registro do PT, "o que obrigaria Lula a disputar a reeleição como candidato sem partido"

O jornal fala também do discurso feito ontem pelo presidente Lula na TV. Ele "pediu desculpas pelo comportamento de seu partido mas negou ter qualquer conhecimento das irregularidades que levaram à renúncia de três líderes partidários e de seu mais próximo auxiliar." Rohter ressalta que "as alegações de desconhecimento de parte do presidente foram esvaziadas pela publicação de uma entrevista em uma revista semanal". O entrevistado, Valdemar da Costa Neto, do PL, "admitiu que havia recebido cerca de R$ 7 milhões em troca de apoio" do PL à candidatura de Lula, "e este sabia da transação". O jornal observa, por fim, que as afirmações de Valdemar "implicavam diretamente o vice José Alencar."

OUTROS JORNAIS

A crise brasileira foi tema, também, do jornal The Times, de Londres, segundo o qual o presidente Lula "fez uma desesperada tentativa de salvar seu governo, indo à TV para pedir desculpas por um escândalo de financiamento e suborno em massa".

Outro jornal inglês, o Financial Times, informa que "a sobrevivência política (de Lula) foi posta em dúvida". A situação do presidente brasileiro, diz o FT, "ficou sumamente comprometida".

Em Madri, o El País destaca que as denúncias "chegam ao cerne da campanha que o levou (o presidente Lula) ao poder".Segundo o jornal espanhol, as acusações de Duda Mendonça "aumentam os temores de uma possível demissão e golpeiam a popularidade do presidente".

Em Paris, esvaziada pelas férias de agosto, o diário Le Monde reproduz trechos do discurso feito por Lula na TV e dá grande ênfase à derrota que ele sofreria, segundo o Datafolha, se o segundo turno das eleições brasileiras fosse hoje. "E a pesquisa revela uma queda de popularidade do presidente entre as camadas de população que lhe eram as mais fiéis", adverte o jornal francês.

Habitualmente opinativo, o El Clarín limitou-se, ontem, a noticiar. "Corrupção no PT", foi seu título. Depois de relatar trechos do discurso do presidente pela TV, o jornal diz que "a mensagem de Lula não foi casual", mas devida à publicação da pesquisa que mostra o rival José Serra (PSDB) como eventual vencedor em 2006. Em sua análise, o rival La Nación reproduz o discurso do presidente e ressalta que ele "era absoluto favorito, sem rival. E a consulta do Datafolha foi feita antes dos depoimentos de Duda Mendonça à CPI e de Valdemar Costa Neto à revista Época."