Título: Costa Neto diz que PT comprou apoio do PL e Lula sabia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A14

Ex-deputado admite ter recebido R$ 6,5 milhões e relata que, no dia do acordo, presidente e Alencar ficaram 'na sala ao lado'

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, admitiu ter recebido R$ 6,5 milhões do caixa 2 da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. E disse que Lula sabia sim do acordo, de R$ 10 milhões, fechado com o PT em troca do apoio do PL. O trato, segundo ele, também era de conhecimento do vice-presidente José Alencar (PL). "O Lula estava na sala ao lado. Ele sabia que estávamos negociando números", afirmou. "O Lula, o José Dirceu (deputado e ex-ministro da Casa Civil) e o Delúbio (Soares, tesoureiro afastado do PT) faziam parte da mesma família", declarou em entrevista exclusiva à revista Época que chegou ontem às bancas. O acordo foi firmado, segundo ele, no apartamento do deputado Paulo Rocha (PA), ex-líder do PT na Câmara, e estavam presentes Dirceu, Delúbio e os então candidatos a presidente e vice. Em certo momento, pelo relato de Costa Neto, Lula teria dito a Alencar: "Vamos sair porque esta conversa é entre partidos, não entre candidatos."

"Lula e Alencar ficaram na sala e fomos para o quarto eu, o Delúbio e o Dirceu." Costa Neto PL disse que começou a discussão pedindo R$ 20 milhões "para levar uns R$ 15 milhões". Segundo ele, o PT achava que iria arrecadar R$ 40 milhões na campanha de 2002. Daí a razão para o PL considerar "justo" receber R$ 15 milhões.

Alencar, contou Costa Neto, recomendou a ele que a doação fosse legal: "Peça tudo por dentro." Ao falar que Lula sabia da negociação, insistiu: "O Lula sabia o que o Dirceu estava fazendo. Lula foi lá para bater o martelo. Tudo o que o Zé Dirceu fez foi para construir o partido. O Lula foi lá para autorizar a operação. O que ninguém esperava é que desse essa lambança."

PAGAMENTO

Ele disse que na campanha o PL "não recebeu nem um centavo" e a primeira parte do pagamento só foi feita em fevereiro de 2003. Delúbio, segundo ele, lhe avisou para "mandar seu pessoal" até a SMPB, agência de publicidade de Marcos Valério, "para pegar dinheiro". Costa Neto enviou o tesoureiro do PL, Jacinto Lamas. "Chegou lá, o Jacinto me liga: não é dinheiro, me deram um envelope." O presidente do PL contou que recomendou a Lamas que não abrisse o envelope e disse que telefonou para Delúbio, que o teria tranqüilizado.

O envelope foi levado por Lamas até o flat onde Costa Neto morava em São Paulo. "Quando abri, eram cheques. O total era de R$ 800 mil." Todos, segundo ele, eram da SMPB para a Guaranhuns. "Fica tranqüilo que vou mandar buscar o cheque aí", teria dito Delúbio a Costa Neto. Uma hora depois chegou um homem "para resgatar" os cheques.

"E me deixou dinheiro. Dinheiro vivo, cash. Estava numa daquelas malinhas de rodinhas, de levar no aeroporto", contou ele, primeiro deputado a renunciar ao mandato após a denúncia sobre o mensalão. O procedimento de pegar cheques na agência de Valério e trocar por dinheiro em São Paulo se repetiu "por duas ou três vezes".

Os recursos, assegurou, "nunca" foram para deputados do PL. "Apenas para fornecedores de campanha." Ele disse que chegou a falar com Delúbio da necessidade de oficializar os recursos. "Me dá em dinheiro. Não me dá mais cheque não", afirmou ter dito.

Quando Costa Neto reclamou do "negócio de Minas" teria começado o do Banco Rural. "Mas foi só até setembro. De abril a setembro", disse ele, que jura não ter ficado com nada. Lamas chegou a receber recursos do esquema em hotéis e até em um restaurante. Dos R$ 10 milhões acordados, o PL teria recebido R$ 6,5 milhões. "Não chegou aos R$ 10,8 milhões como estão falando. Estão botando R$ 4 milhões a mais na minha conta."

ROBERTO JEFFERSON

Na entrevista, Costa Neto criticou ainda o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Disse que Dirceu "escolheu operar com Jefferson", conhecido "como camarada mal-intencionado, perigoso". "Em Brasília você é obrigado a conviver com pessoas de que não gosta. Mas não precisa colocar dentro da sua casa. Eles (petistas) escolheram conviver com um cidadão assim."

Também rejeitou a tese de que Delúbio montou sozinho o esquema do caixa 2. "Eu cheguei a cobrar o Zé diversas vezes no Planalto. Falei: Zé, meu dinheiro está vindo pingado, em conta-gotas. Falei que queria receber tudo de uma vez. O Zé me disse: 'Calma que o Delúbio está providenciando o dinheiro'. "