Título: Doleiro nega operação com publicitário
Autor: Eduardo Kattah, Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A13

Jader Kalid também duvida que a conta onde Duda Mendonça recebeu dinheiro do PT tenha sido criada a pedido de Valério

BELO HORIZONTE - O doleiro Jader Kalid Antônio negou ontem que tenha operado para Duda Mendonça, mas duvidou que a conta Dusseldorf Company Ltd, pela qual o publicitário recebeu dinheiro ilegal do PT, foi criada a pedido do empresário Marcos Valério. "Vejo uma contradição do Duda, porque essa conta não tem o perfil de receber e trazer de volta o dinheiro. É para um investimento de longo prazo, uma poupança não declarada", disse. "É uma conta blindagem para proteger o nome da pessoa." Kalid foi citado no depoimento de Duda Mendonça à CPI dos Correios, anteontem. Segundo o publicitário, ele só abriu a conta no BankBoston International, de Miami, porque senão "levaria cano" de Valério, responsável pela transferência de R$ 10,6 milhões referentes à campanha presidencial de Lula de 2002. No mesmo dia, o suposto operador do mensalão negou e disse que a intermediação teria de ser feita com Kalid segundo determinou o próprio Duda e a sócia dele, Zilmar Fernandes.

O doleiro informou que teve contato com Ramon Hollebach Cardoso, sócio de Valério na SMPB Comunicação, e foi procurado por ele em 2003 para realizar remessa de R$ 2 milhões para o exterior. O doleiro afirma que sugeriu um procedimento ilegal para enviar R$ 500 mil e pode ter sido esse o "caminho" utilizado para fazer outras remessas. Em nota, Ramon Cardoso afirmou que jamais procurou o doleiro Kalid e "não enviou e não possui recursos fora do País".

Ainda em 2003, a gerente financeira da agência SMPB, Geiza Dias, enviou por fax comprovantes das operações financeiras envolvendo a conta Dusseldorf por remetentes como o Banco Rural Europa, na Ilha da Madeira, Trade Link Bank, offshore na Ilha Grand Cayman - que foi criada por controladores do Banco Rural. Geiza queria saber de Kalid se as operações estavam sendo realizadas corretamente. "Eles (a SMPB) já tinham um esquema, com certeza", afirmou Kalid.

"Pela minha experiência, senti que conheciam o mercado, já tinham a conta, inclusive." O doleiro reafirmou que não conhece Duda, Zilmar ou Valério, que agora o acusam de realizar operações financeiras ilegais no exterior. Segundo ele, Valério implicou seu nome nesse escândalo para acobertar a pessoa que operou para o empresário.

"Senti contradições dos dois (Duda e Valério)." Para o doleiro, o policial David Rodrigues Alves pode ajudar a resolver o mistério, porque ele foi um dos principais sacadores do esquema, com R$ 4,9 milhões. Em depoimentos anteriores, Alves disse que foi apresentado pelo doleiro Haroldo Bicalho e Silva a Cristiano Paz, também sócio da SMPB. Alves e Bicalho não foram encontrados pela reportagem.