Título: CNBB cobra investigação, mas é contra afastamento
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A4

INDAIATUBA - Os bispos brasileiros são contra a idéia ou discussão de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conseqüência das recentes denúncias de corrupção que podem envolver o governo. "Possibilidade de impeachment pode haver, mas não probabilidade", declarou ontem o bispo de Jales (SP), d. Demétrio Valentini, autor da proposta de que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aprovasse uma declaração sobre o momento político atual. Aprovada a sugestão, o texto foi divulgado no fim de semana. Segundo d. Demétrio, que falou em nome da assembléia-geral reunida em Itaici, município de Indaiatuba, existe um consenso no episcopado de que não seria o caso de impeachment. "Antes de se falar em afastamento do presidente, é preciso fazer a apuração rigorosa dos fatos pela Polícia Federal, Ministério Público e CPIs", advertiu o bispo.

O presidente da Comissão de Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz, d. Aldo Pagotto, arcebispo da Paraíba, afirmou que o impeachment poderia levar à desestabilização e ao desastre social. Ele voltou a dizer, como declarou ao Estado na semana passada, que está perplexo por perceber que "quem deveria estar tomando a frente do processo de investigação para superação da crise está empurrando o problema com a barriga". O arcebispo da Paraíba insiste que, conforme sugeriu a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o presidente Lula deveria não só convocar o Conselho da República, mas também ouvir outras personalidades e cientistas políticos que se dispusessem a ajudá-lo.

"Lula merece um voto de confiança (dos bispos), pois está agindo com seriedade", disse o arcebispo de Feira de Santana (BA), d. Itamar Vian, após lembrar que, em 50 anos de história da CNBB, Lula foi o primeiro presidente a vir a uma assembléia-geral do episcopado.

O arcebispo elogiou também a iniciativa do presidente de enviar uma carta à CNBB, endereçada a seu presidente, cardeal d. Geraldo Majella Agnelo, na qual dizia ter consciência da gravidade da crise e que tomara medidas para resolvê-la.

Numa declaração aprovada ontem, sobre bioética, os bispos pegaram o presidente pela palavra. No texto da nota, ainda não divulgada, a CNBB pede que Lula não sancione nenhuma lei nem assine nenhum documento que atente contra a vida humana - uma referência clara ao aborto.

Na carta aos bispos, na abertura da assembléia, Lula lembrava sua fidelidade aos valores do Evangelho e a fé herdada de sua mãe, para garantir aos bispos que não assinaria nada que atentasse contra o direito à vida.