Título: Atos contra corrupção chegam às ruas
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A5

A crise política começa a ganhar as ruas. Hoje, em Brasília, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) puxará uma passeata contra a corrupção, mas sem atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo é deixar claro que, embora apóiem reformas políticas e desejem mudanças na rota da política econômica, esses movimentos não aceitam a tese do impeachment, associando-o a intenções golpistas. Amanhã, a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), ligada ao PSTU, fará outra passeata, também contra a corrupção e contra a política econômica, mas sem poupar Lula. Para o PSTU, cujos militantes já gritam "fora Lula", o presidente da República não só sabia dos esquemas do corrupção, mas ajudou a organizá-los para chegar ao poder e nele se manter.

Outras manifestações, com a participação de diferentes organizações sociais, estão programadas para este mês, devendo prosseguir até 7 de setembro. Na passeata de hoje, que começa às 9 horas com uma concentração em frente à Catedral de Brasília, deverá predominar a presença de estudantes ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE) e de militantes dos movimentos de sem-teto, que ontem já realizaram um ato na Esplanada dos Ministério.

PETISTAS

A passeata conta com o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do País, do Movimento dos Sem-Terra (MST), o mais ofensivo dos movimentos sociais, e do PT. Membros da direção executiva do partido, incluindo o presidente Tarso Genro, são esperados na passeata.

Até agora, representantes de movimentos ligados à CSN negavam que a passeata fosse de apoio à Lula. Mas ontem, o secretário nacional de mobilização do partido, Francisco Campos, disse, no site oficial da agremiação, que "num momento de grave crise política no País, o ato deverá combater as posições golpistas que flertam com a tese do impeachment".

É o oposto da manifestação de amanhã, cujo alvo será o presidente. "O Lula sabia de toda essa corrupção", afirma o presidente do PSTU, José Maria de Almeida, que concorreu à Presidência em 2002, obtendo 0,5% dos votos. "A manifestação da CUT e da UNE é chapa branca. Vão atacar a corrupção e defender o chefe dos corruptos, o Lula. São organizações cooptadas pelo governo, que deu muito dinheiro para a UNE e levou o presidente da CUT para o Ministério do Trabalho."

O PSTU, que conta com o apoio do PSOL, da senadora Heloisa Helena, planeja realizar uma série de manifestações pelo País. "O Conlutas reúne quase 200 sindicatos, que não aceitam esse governo e sua política neoliberal, nem querem o retorno do PSDB e do PFL."

A divisão entre os movimentos de esquerda é bastante visível no meio estudantil. Há grupos que rejeitam o PSTU, partido de orientação trotskista que surgiu do racha da Convergência Socialista com o PT, e também não aceitam a orientação da UNE, controlada desde o fim dos anos 70 pelo PC do B, tradicional aliado do PT.

De acordo com o porta-voz da direção nacional MST, João Paulo Rodrigues, a passeata de hoje não é a favor de Lula nem contra ele. "Não representamos partidos, mas movimentos sociais, que exigem reforma agrária, moradia, melhorias no ensino e, acima de tudo, mudanças na política econômica que só favorece banqueiros. A questão do impeachment não está posta para nós. Até agora o assunto só está na boca dos meios de comunicação e das elites."

SEM MITOS

Sobre a possibilidade de os movimentos sociais estarem exercitando músculos para ir às ruas defender Lula diante de um processo de impeachment, João Pedro responde: "Não discutimos esse assunto no MST. Pessoalmente, porém, digo que ninguém irá à rua defender o mito Lula, defender um governo de esquerda que tem um programa de direita. Se o Lula espera contar com o apoio dos movimentos sociais, precisa fazer mudanças na política econômica, antes que seja tarde."

Ontem, em Brasília, um grupo de mulheres de militares protestou contra a corrupção, exibindo faixas nas quais Lula era chamado de corrupto.