Título: Severino defende Lula e pede punição de Dirceu
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A6

RIO - O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem que há "evidências" de que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP), que também é deputado federal, seja culpado de denúncias de corrupção contra o governo e defendeu que seja punido, com os outros envolvidos. A perda de mandato, explicou, é uma das possíveis punições, mas isso, ressaltou, dependerá do plenário da Casa que, por lei, julga os deputados, sendo difícil prever o que acontecerá. Severino também reafirmou sua crença na inocência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso. "Diante das denúncias e da maneira como estão sendo encaminhadas, a evidência é de que ele (Dirceu) tem alguma culpa", disse Severino para uma platéia formada em boa parte por empresários franceses, reunida em almoço pela Câmara de Comércio Brasil-França no Hotel Le Meridién, no Leme, zona sul. "E se ele tem alguma culpa, tem que pagar."

Segundo Severino, a sociedade brasileira exige que os culpados sejam punidos. "Olhe, isso vai depender do plenário. O plenário, ali, é muito difícil prever o que vai acontecer. Mas, a sociedade está exigindo punição. Alguém tem que pagar. Que houve desmando, houve. Que houve falta de princípios éticos, houve. O que não pode deixar é a impunidade. Têm que ser punidos aqueles que fizeram por onde a sociedade exigir que tenham respeito ao decoro parlamentar, aos princípios éticos, aos princípios morais. Não podemos botar a mão sobre nenhum daqueles que tenham ferido esses princípios."

Em tom irônico, o presidente da Câmara declarou não acreditar que as investigações acabem em pizza. "Só conheço pizza em restaurante."

Severino também elogiou o que chamou de "humildade" do presidente, ao reconhecer que foi traído por auxiliares. "Acredito que ele não sabia. Ninguém é traído sabendo."

VOTAÇÕES

Com críticas à aprovação, pelo Senado, do novo mínimo de R$ 384, e à Câmara por parar as votações por causa das CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos, Severino defendeu a retomada das votações no Congresso esta semana.

Ele afirmou que vai tentar, numa reunião hoje com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e líderes partidários, retomar o trabalho de plenário, a partir dos projetos sobre os quais não haja polêmica. Entre eles, citou a reforma política e o Estatuto da Micro e Pequena Empresa.

O presidente da Câmara também reclamou da briga entre governo e oposição que resultou, por exemplo, no novo valor do mínimo,aprovado por senadores oposicionistas.

"Acho que foi um caso impensado do Senado", afirmou. "O mínimo - para que, nas condições de hoje, não acabe com as micro e pequenas empresas, para que os municípios possam pagar - tem que ser o que foi aprovado na Câmara (R$ 300) e não na orgia do Senado."

O novo valor voltará à Câmara, onde a bancada governista tentará derrubá-lo, já que resultaria em despesa adicional à Previdência, em 2005, de R$ 16 bilhões. Mas há dificuldades devido à crise política que esfacelou o PT e a aliança que sustentava o governo no Legislativo.

Severino afirmou ter certeza de que "haverá bom senso". "Temos que separar esta história. CPI é CPI, e trabalho da Câmara é trabalho da Câmara. "