Título: Duda já recebia no exterior quando fez campanha de Maluf
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - A CPI dos Correios descobriu que o publicitário Duda Mendonça recebeu, por meio de uma empresa offshore, remessas de uma conta de doleiros na época da campanha de 1998, quando trabalhou para o candidato a governador Paulo Maluf. A conta que abasteceu a offshore de Duda chama-se Chanani e era operada por um doleiro brasileiro. A Chanani foi criada no MTB Bank, banco que foi investigado por lavagem de dinheiro pelo FBI, a polícia federal americana. Como a CPI também descobriu que a Chanani fez remessas para outras contas ligadas ao meio publicitário, os parlamentares suspeitam que os depósitos para Duda referem-se a caixa 2 na campanha eleitoral de 1998. Na CPI, ele negou que tivesse recebido recursos no exterior antes da campanha de 2002.

Duda também garantiu que só teve uma offshore, a Dusseldorf, que teria sido criada em 2003. Os técnicos da CPI, no entanto, descobriram que a offshore que recebeu os recursos em 1998 não é a Dusseldorf.

A Chanani foi investigada pela Promotoria de Nova York, no curso das investigações do Caso Banestado (envio ilegal de remessas para o exterior). A Promotoria apurou que a Chanani era uma "conta-ônibus", que intermediava depósitos entre offshores, para dificultar o rastreamento.

No caso dos depósitos para Duda, a Chanani recebeu recursos da Ágata Holdings International, outra offshore controlada por doleiros brasileiros. Após receber os depósitos, a Chanani repassou o dinheiro para a offshore de Duda.

A Ágata também está na mira das investigações da CPI porque fez negócios com o publicitário e a sócia dele, Zilmar Fernandes da Silveira. Entre 1997 e 2000, a holding tanto enviou quanto recebeu dinheiro de Duda e de Zilmar.

Os registros do MTB Bank, obtidos pelo Estado, mostram que o publicitário fez 14 remessas, que somam cerca de R$ 1 milhão. O dinheiro saía da conta dele no BankBoston e seguia para a Ágata, que também tinha conta no MTB Bank. Numa dessas operações, por exemplo, o publicitário transferiu US$ 168.539 para a Ágata, em 7 de julho de 1999.

Ontem, técnicos da CPI, do Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça (Drci) e da Polícia Federal se reuniram para traçar estratégias de investigação sobre a "Conexão Duda". O Drci é o órgão do governo responsável pela interlocução com os paraísos fiscais, para rastrear e bloquear dinheiro remetido ilegalmente para o exterior.

A idéia da CPI é formar uma força-tarefa para que as investigações andem mais depressa. "Uma das prioridades da CPI é descobrir quem depositou dinheiro na offshore do Duda", afirma o relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR).

O governo brasileiro foi ágil no pedido de informações aos países envolvidos. Ainda na quinta-feira da semana passada, enquanto Duda depunha na CPI, o Drci entrava em contato com o governo americano para pedir ajuda no caso. Os americanos apenas esperam que o ofício do governo brasileiro chegue para remeter um fax com as informações.

O Brasil não encontrou a mesma diligência nas conversas com o Uruguai e as Bahamas. Os dois países costumam criar empecilhos para abrir os sigilos de offshores. Neste caso, alegaram que não reconhecem a CPI como um instrumento "legítimo" para requisitar informações sigilosas.