Título: Integrantes da CPI devem ouvir doleiro em SP
Autor: Eugênia Lopes e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - Integrantes da CPI dos Correios pretendem ir hoje a São Paulo para ouvir o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. Ele estaria disposto a revelar supostas movimentações financeiras que o PT teria feito no exterior, desde 1989, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se candidatou pela primeira vez. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), informou que estão sendo feitas negociações com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para que Toninho da Barcelona seja transferido da penitenciária de segurança máxima de Avaré, no interior do Estado, para a capital, para prestar o depoimento à CPI.

Além de Toninho Barcelona, a CPI dos Correios também quer ouvir ainda esta semana o depoimento de outros dois doleiros: Haroldo Bicalho e Jader Kalid. Integrantes da Comissão suspeitam que ambos tenham ajudado o empresário Marcos. Valério Fernandes de Souza a enviar dinheiro para o exterior

Condenado a 25 anos de prisão em 3 processos sobre lavagem de dinheiro, evasão de divisas e crimes tributários, Barcelona é apontado como o maior doleiro do País, a serviço de empresários e políticos que internaram recursos em paraísos fiscais e nos Estados Unidos. Ele é um grande enigma para procuradores da República, que propuseram ao doleiro o benefício da delação premiada em troca de informações sobre os beneficiários das remessas. Barcelona seria contemplado com redução de pena ou até mesmo absolvição. Mas o acordo não se concretizou. O juiz federal Sérgio Fernando Moro, especializado na condução de processos sobre lavagem de dinheiro, considerou que "o depoimento do acusado não foi totalmente sincero, não revelando informações desejadas pela acusação a respeito de seu envolvimento com agentes públicos".

FATOS CONHECIDOS

Para Moro, "o acusado prestou informações relevantes acerca do mercado de câmbio paralelo, inclusive quanto a outros operadores e suas contas; ocorre que boa parte, senão a maior parte das informações, já era conhecida por força das investigações do caso Banestado e da Operação Farol da Colina, inclusive por delação premiada de outros acusados".

Em sessão administrativa, hoje de manhã, a CPI deve aprovar requerimento para que Toninho da Barcelona seja ouvido em São Paulo. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) defendeu a proposta de que o doleiro vá depor na CPI, em Brasília. "Isso vai criar uma polêmica", observou o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele e outros cinco integrantes da comissão - os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e José Eduardo Cardozo (PT-SP) e os senadores Heloisa Helena (PSOL-AL), Demostenes Torres (PFL-GO) e Ideli - devem formar o grupo que ouvirá o doleiro.

Os parlamentares pretendiam ouvir Barcelona ontem, mas desistiram depois da interferência do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos. O ministro teria ficado preocupado com o depoimento.

"Foi uma sucessão de desencontros", resumiu o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Sábado, a pedido de Delcídio, ele conversou com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre a ida da CPI até ao presídio para ouvir o doleiro. Segundo Fruet, Souza disse que poria um procurador para acompanhá-los.