Título: CVM apura prejuízo de R$ 4 mi no fundo Refer
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A12

RIO - A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investiga operações financeiras que deram prejuízo de pelo menos R$ 4 milhões ao Refer, o fundo de pensão da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), nos dois primeiros anos do governo Lula. Elas constam de dossiê enviado à CVM em junho de 2004, ao qual o Estado teve acesso. O dossiê pede a investigação da ex-gerência financeira do fundo, cuja diretoria resultou de indicações que passaram pelo crivo do ex-assessor da Casa Civil e ex-secretário de comunicação do PT Marcelo Sereno. A perda de R$ 3,2 milhões na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) em operações com índice futuro, entre novembro de 2003 e março de 2004, levou os conselhos fiscal e deliberativo do Refer a pedirem a demissão do gerente financeiro, Bruno Grain. Os conselheiros se queixavam dele havia meses. Sozinho, respondia pela execução dos investimentos do fundo, cujo patrimônio é estimado em R$ 2,5 bilhões.

Sua demissão foi decidida em 9 de março de 2004, mas ele só foi desligado em 1.º de abril. No meio tempo, realizou novas operações, dessa vez com opções de compra de ações da Telemar, que resultaram na perda de R$ 827 mil. A demora na demissão é motivo de um auto de infração da Secretaria de Previdência Complementar.

Os conselheiros relacionaram no dossiê todas as operações feitas por Grain que julgaram suspeitas. Eles procuraram a CVM por desconfiar que Grain agia sob a orientação de terceiros, que se beneficiavam na outra ponta dos títulos. As atas das reuniões do conselho fiscal questionam operações feitas com prejuízo sem fundamentações técnicas. Os conselheiros identificaram movimentações feitas por ele fora do escritório do Refer.

Diretor do Refer entre 2003 e 2004, por indicação de Sereno, o ex-deputado Jorge Moura acha que Grain era "um braço" da família Almeida Rego, cujo patriarca, como Haroldo Pororoca, agiria nas sombras dos fundos. "Sempre disseram que ele era ligado ao Pororoca. Hoje estou convencido. É só uma suspeita, não tenho provas", disse. Moura diz ter rompido com Sereno e foi afastado em meio a uma disputa política entre petistas que envolvia a terceirização da carteira de títulos do Refer.

Sereno escolheu Adalto Carmona para diretor financeiro, indicação do PC do B. Um dos primeiros atos dele foi demitir dois funcionários que respondiam pelos investimentos do Refer havia duas décadas. Antes de Grain, Carmona tentou admitir Naufel Padilha David como gerente financeiro, mas foi impedido pela ficha do candidato, denunciada por conselheiros.

Naufel foi condenado em inquérito da CVM de 2003 que apurou irregularidades cometidas pela corretora Prata em operações de cinco fundos. A comissão também apontou Murilo de Almeida Rego, filho de Pororoca, como um dos procuradores da Prata que teriam usado Naufel como laranja.

DEFESA

Carmona, que hoje tem cargo de confiança na Agência Nacional de Petróleo (ANP), confirma que indicou Naufel, mas diz que não conhecia seu passado e ele foi apresentado por Grain. Diante do impedimento, o então diretor empossou Grain.

Carmona nega que a família Almeida Rego tivesse influência na gestão do Refer. Ele já tinha ouvido falar de Pororoca, mas acredita que não passa de "uma espécie de lenda" dos fundos de décadas atrás. O dossiê mostra que a maior parte das operações de Grain desfavoráveis no mercado futuro foram feitas por meio das corretoras do Banco Cruzeiro do Sul, onde ele trabalhou em 1996, e Novinvest, onde Christian Almeida Rego, outro filho de Pororoca, atuou entre 2001 e 2002.

A assessoria de Sereno nega que ele tenha exercido influência sobre fundos de pensão e seja amigo da família Almeida Rego. Sereno admite ter ido ao casamento de Christian, mas levado por amigos que têm em comum. Procurados pelo Estado, Grain e Christian não foram encontrados. Marcos Almeida Rego, irmão de Haroldo que abriu empresa com Christian, negou ter relações com políticos como Sereno ou diretores dos fundos. E disse ainda que Pororoca está afastado do mercado financeiro há pelo menos 7 anos.