Título: IGP-10 acentua deflação em agosto
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

RIO - O Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) voltou a apresentar redução de preços em agosto, pelo quarto mês seguido. Desta vez, a taxa negativa foi de 0,52%. Em julho, a deflação foi de 0,37%. Abaixo das previsões do mercado, a taxa foi a menor em mais de dois anos e a terceira deflação consecutiva - em maio deste ano, os preços ficaram estáveis. A queda de preços de commodities de peso no atacado, como soja (1,7%), café em coco (7,59%) e bovinos (1,64%), e as liquidações nas lojas foram decisivos para o recuo, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, admitiu que o desempenho do indicador - que abrange o período de 11 de julho a 10 de agosto - "favorece a decisão de reduzir juros" em algum momento. Mas ele não quis arriscar previsões específicas de manutenção ou não da taxa básica de juros (Selic) em 19,75%, na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).

Ao ser questionado sobre a análise de alguns técnicos que apostam na manutenção da Selic, tendo em vista o agravamento da crise política, o economista considerou que qualquer sinal de incerteza se traduz em manutenção ou alta de juros. Mas avaliou que esse cenário não é procedente.

Quadros lembrou os bons resultados de captação externa, em condições melhores, que o Brasil vem registrando nos últimos tempos, e avaliou que, se os investidores estrangeiros estão com visão positiva em relação ao País, os sinais de incerteza não podem ser tão fortes assim.

As sucessivas deflações também não podem ser consideradas como sinal de recessão, na avaliação de Quadros, tendo em vista os bons resultados em outros indicadores macroeconômicos - como o bom desempenho da produção industrial no primeiro semestre.

Em agosto, o Índice de Preços por Atacado -10 (IPA-10), de maior peso na formação do IGP-10, caiu 0,78%, ante recuo de 0,64% em julho - influenciado pela redução dos preços dos produtos agrícolas (1,56%) e industriais (0,52%).

Na avaliação do economista, as causas da queda de preços em agosto são diferentes das que levaram às deflações nos meses anteriores. "A deflação era basicamente explicada pela queda do dólar, dentro de uma economia tendendo um pouco para o desaquecimento. Esses fatores estão perdendo importância", observou.

Segundo o economista, a influência do dólar é cada vez menor nos preços do atacado. A explicação, agora, disse Salomão, se desloca para as matérias-primas agropecuárias. O técnico explicou que produtos como soja, café e bovinos, em um período de entressafra, estão atualmente com boa oferta inesperada, o que derrubou as cotações.

No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor passou de -0,04% para -0,07%. Já o Índice Nacional do Custo da Construção passou de 0,64% em julho para 0,09% em agosto.