Título: Doleiro acusa PT de remeter dinheiro para o exterior e quer acordo com CPI
Autor: Carlos Marchi e Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A4

O doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, disse ontem a 12 parlamentares da CPI dos Correios que conhece operações de remessa de dinheiro para o exterior feitas pelo PT, pelo deputado José Dirceu (PT-SP), pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares, pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos (este, entre 1993 e 2002). O doleiro, que está preso na penitenciária de Avaré, convenceu o grupo a convocá-lo para um depoimento formal na CPI, na semana que vem, em Brasília. "Ele pode derrubar a República", disse o senador Demóstenes Torres (PFL-GO). Toninho da Barcelona, que falou aos parlamentares numa delegacia da Polícia Civil de São Paulo, apontou o dedo para o MTB Bank e revelou que a corretora Bônus-Banval não fazia operações apenas para o líder do PP na Câmara, José Janene: operava também para Dirceu e era a principal pagadora do mensalão. E não é só: disse aos parlamentares que conhece operações "de toda a sociedade brasileira" e de políticos de outros partidos.

Logo no início do depoimento, o doleiro revelou que tinha conhecimento de muitas operações envolvendo políticos, mas que só indicaria as provas - ou o caminho até elas - se tivesse a promessa de revisão de sua pena, de 25 anos.

A exigência criou um dilema para os parlamentares: acreditar ou não no doleiro. O primeiro problema é que a redução de pena não pode ser pedida pela CPI, pois é decidida pela Vara de Execuções Criminais.

A presença de procuradores federais no depoimento informal encaminhou a questão: como Toninho da Barcelona convenceu todos de que tem boas informações, estabeleceu-se uma aliança tácita entre os parlamentares e os procuradores.

Os procuradores disseram aos integrantes da CPI que o depoimento foi convincente e acrescentou muito ao que o doleiro revelou quando foi preso. Como estão convencidos de que ele tem informações e quer colaborar, os procuradores farão relatórios favoráveis à redução de pena do doleiro. Assim, abre-se uma janela para encaminhar a redução de pena de Toninho da Barcelona.

SEGURANÇA

O depoimento de ontem foi acompanhado pelo secretário de Segurança de São Paulo, Saulo Abreu, que garantiu aos parlamentares a segurança do doleiro. Ao final do depoimento, ele não voltou a Avaré: foi levado para um setor de inteligência da Polícia Militar em Franco da Rocha e será guardado por homens de elite da PM.

Ao final do depoimento, parlamentares do PT, como a senadora Ideli Salvatti (SC) e o deputado Maurício Rands (PE), cobravam garantias da vida de Toninho da Barcelona.

"Fiquem tranqüilos. A vida dele está garantida pelo governo Alckmin. Nós estamos operando isso", disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

No depoimento informal, o doleiro disse que tem conhecimento de incontáveis operações financeiras, a maioria de lavagem de dinheiro ou de remessas para o exterior, citando os nomes de políticos do PT e do governo Lula. Além de confirmar uma ligação entre Dirceu e a Bônus-Banval, ele também disse conhecer outras operações do ex-chefe da Casa Civil.

Toninho da Barcelona também conhece incontáveis operações de Delúbio, o ex-tesoureiro do PT, que, segundo o doleiro, operaria para o partido, para si e para amigos.

O doleiro também contou ter trocado grandes quantidades de reais em dólares para o deputado José Mentor (PT-SP), que foi relator da CPI do Banestado. O que os parlamentares mais gostaram de ouvir, no entanto, foi que Toninho da Barcelona conhece "muito bem" as operações feitas pelo Banco Rural no exterior, inclusive os cruzamentos de operações com o BankBoston.

Durante o depoimento, Toninho da Barcelona chorou várias vezes, contaram os parlamentares, principalmente quando falava na família. Disse ter sido mal tratado quando enfrentou uma rebelião, no presídio em que ficou ao começar a cumprir sua pena. Queixou-se, particularmente, do regime duro da penitenciária de segurança máxima de Avaré, onde os detentos têm de ficar 22 horas dentro da cela. Revelou, também, que ele e sua família estão recebendo ameaças.

A CPI dos Correios vai requisitar os registros das operações feitas pela casa de câmbio de Toninho da Barcelona, que estão arquivados na 6.ª Vara Federal, em Brasília. Hoje, a CPI dos Correios deve aprovar a convocação dele para depor.