Título: Remessas foram legais, diz Bastos
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, confirmou ontem, por meio de nota, que de fato fez remessas de dinheiro para aplicações financeiras no exterior em 1995, conforme denúncia do doleiro Antônio Claramount, o Toninho da Barcelona. Mas ressalvou que as operações, intermediadas pelo Unibanco, foram legais, amparadas em contratos de câmbio e devidamente registradas no Banco Central. Ele disse que em 2002 - ano em que o presidente Lula foi eleito e Bastos indicado para assumir o Ministério - optou por trazer as aplicações de volta ao País, tendo recolhido mais de R$ 1 milhão ao fisco brasileiro. Na nota, assinada pela Assessoria de Comunicação Social do Ministério, Bastos não informa a soma das aplicações no exterior, mas diz que entregou toda a documentação relativa às operações à CPI do Banestado.

Acrescenta ainda que, "por precaução e transparência", ao assumir o cargo, passou a administração de todos os seus bens para o Unibanco e se desfez das cotas de seu antigo escritório de advocacia, numa operação que alega ter sido aprovada pela Comissão de Ética Pública, do governo federal.

O desabafo do doleiro, expressão grafada na nota como "desafeto", provavelmente um ato falho, "não surpreende ao ministro", segundo a assessoria. Lembra, por fim, há doleiros inconformados com a ação do Ministério, sobretudo aqueles presos nas operações Anaconda e Farol da Colina, realizadas no ano passado pela Polícia Federal.

Preso na operação Farol da Colina, Toninho Barcelona cumpre pena de 25 anos de prisão em São Paulo, condenado em vários processos por crimes de lavagem de dinheiro, remessa ilegal de divisas ao exterior, sonegação de impostos e formação de quadrilha. A operação foi desencadeada a partir de dados da CPI do Banestado, que investigou a remessa de cerca US$ 30 bilhões ao exterior, a partir da agência do Banestado em Foz do Iguaçu.

Em duas contas já mapeadas pela PF, Toninho teria remetido mais de US$ 300 milhões, entre 1997 e 1999. A sentença confirma que, para realizar as operações financeiras ilegais, ele utilizou-se de empresas off-shores de paraísos fiscais, alimentadas pela conta Beacon Hill (farol da colina), sediada em Nova York.

A CPI do Banestado constatou que um grupo de dez doleiros brasileiros, entre eles Toninho, movimentou pelo menos US$ 2,4 bilhões em 42 contas do MTB Bank de Nova York, entre 1997 e 2003.