Título: Conta em paraíso fiscal liga Duda a Maluf
Autor: Fausto Macedo e Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - A conta Chanani, que abasteceu a offshore do publicitário Duda Mendonça, é alvo do Ministério Público nos autos da investigação sobre suposto enriquecimento ilícito do ex-prefeito Paulo Maluf. Documento em poder da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo revela detalhes de uma remessa no valor de US$ 843, 2 mil para a Chanani, conta 026003023, do Safra International Bank of New York (EUA) que seria destinatária de recursos enviados pela empreiteira Mendes Jr. A operação foi realizada em 20 de janeiro de 1998.

A Mendes Jr. está com parte de seus ativos indisponíveis por decisão da 4.ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado. A família Maluf também. Segundo o Ministério Público, a empreiteira teria sido beneficiada na licitação para construção da Avenida Água Espraiada, zona sul da capital. A obra custou US$ 600 milhões. Técnicos da promotoria denunciam superfaturamento de 300%. A Mendes Jr. nega irregularidades.

As transferências para a Chanani foram realizadas por meio da Lespan S.A., offshore uruguaia que mantinha uma conta no Citibank de Nova York, número 06100546.

Após passar pelo por essa instituição financeira, o dinheiro seguia para a conta do Safra National Bank. À CPI dos Correios, Duda confessou ter aberto a offshore Dusseldorf para captar recursos a título de pagamento pela campanha do presidente Lula.

DESVIO

A promotoria sustenta ter "provas documentais e testemunhais" de que parte do dinheiro que Maluf mandou para paraísos fiscais passou pela Chanani, criada no MTB Bank, instituição que sofreu investigação do FBI e da Procuradoria da República no esquema Banestado. Extratos do MTB revelam que o publicitário fez 14 remessas somando cerca de R$ 1 milhão. O dinheiro passou também pela conta Ágata.

A Polícia Federal rastreia os ativos que transitaram por essa conta. Extratos bancários enviados ao Brasil pela Procuradoria do Cantão de Genebra mostram que Maluf movimentou US$ 446 milhões na Suíça, como principal beneficiário da offshore Blue Diamond, sediada em Grand Cayman. Parcela desse montante passou pela Chanani, afirma o Ministério Público em São Paulo.

Para promotores de Justiça e procuradores da República que investigam a Chanani, Duda Mendonça pode ter sido pago com dinheiro público desviado dos cofres públicos municipais durante a gestão Maluf. O repasse ocorreu através da Chanani, delatada ao Ministério Público por Joel Guedes Fernandes, ex-caixa da Mendes Jr.

O relato de Fernandes é um dos trunfos da promotoria na ação de improbidade administrativa contra Maluf, familiares do ex-prefeito e outras pessoas físicas e jurídicas que estão com os bens bloqueados.

BIRIGUI

É conhecido por Birigui o doleiro que operava a conta Chanani. Ele declarou à Polícia Federal que também movimentava recursos e fazia pagamentos para Duda Mendonça.

A CPI suspeita que os depósitos para Duda referem-se a caixa 2 na campanha eleitoral de 1998, ano em que Maluf foi candidato a governador do Estado. "Desconheço", rebateu o advogado Pedro Dallari, que defende o publicitário e está providenciando cópias de todos os contratos que ele firmou com o PT para entregar à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios.

"Birigui tentou extorquir o Flávio Maluf (filho mais velho do ex-prefeito)", reagiu o criminalista José Roberto Batocchio, integrante da defesa dos Maluf.