Título: Lamas diz que sacou para pagar campanha de 2002
Autor: Ana Paula Scinocca e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - O ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas disse ontem à CPI do Mensalão que todo o dinheiro que sacou de contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza foi enviado para o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, para "pagar fornecedores da campanha de 2002". Ele disse acreditar que o dinheiro era para pagar gastos da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Valdemar Costa Neto me dizia que (o dinheiro) era para acertar compromissos dele de campanha. Acredito que tenha sido para a campanha do presidente Lula, da parte do Valdemar Costa Neto. Ele não precisava se era para o presidente, mas eu suponho que fosse para a campanha de Lula", afirmou o ex-tesoureiro. Lamas disse que não houve repasse a deputados e negou que tenha sacado R$ 10 milhões, como consta de uma das listas de Marcos Valério.

Lamas prestou um dos depoimentos mais desequilibrados da CPI. Alternou choro e riso convulsivo ao admitir que era emissário de Costa Neto. O ex-tesoureiro iniciou participação na comissão tentando minimizar sua atuação. Primeiro, negou ter conhecimento do conteúdo dos envelopes que foi buscar na SMPB, uma das agências de Valério, em Minas Gerais e em Brasília. Depois, acabou admitindo que os recursos eram pagos pelo PT, por meio do esquema do empresário, a Costa Neto, primeiro deputado a renunciar ao mandato desde que o suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares foi denunciado.

Pressionado pelos parlamentares, acabou admitindo que o dinheiro recebido por Costa Neto, com a ajuda dele, era ilegal. Depois, recuou, e disse que a informação que tinha era que os recursos vinham "do PT ou de Delúbio Soares (ex-tesoureiro petista)" e a obrigação de contabilizar a verba era do comitê de campanha do presidente Lula.

Além de buscar recursos, que ele chamou, em alguns momentos, de "encomendas", na SMPB, Lamas disse ter ido cerca de oito vezes fazer saques na agência do Banco Rural em Brasília. Também buscou verba em hotéis, entregue pela diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcellos.

Lamas não precisou o volume de dinheiro que sacou para entregar a Costa Neto. Ao ser indagado pelo relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), se havia sido responsável por saques que chegariam a R$ 10 milhões ou a R$ 1,3 milhão, já que existem duas listas, Lamas respondeu: "Acho mais plausível a segunda versão. Nos pacotes que me entregaram não caberia um volume desses. Até fisicamente eu não daria conta", afirmou, aos risos, num dos primeiros momentos de desequilíbrio emocional.