Título: 'Não sei o que Jefferson fez com o dinheiro'
Autor: Ana Paula Scinocca e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - Os R$ 4 milhões levados em dinheiro vivo à sede do PTB pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza estão, na versão do tesoureiro informal do partido Emerson Palmieri, em poder do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). O tesoureiro disse que o dinheiro chegou em duas levas, uma de R$ 2,2 milhões e outra de R$ 1,8 milhão, no início de julho de 2004. Palmieri ficou encarregado de dividir em bolos de R$ 150 mil e de R$ 200 mil, presos com elásticos. "Não coube tudo no cofre do partido, então passei uma parte para um armário ao lado. Entreguei a chave ao deputado Roberto Jefferson e ele me pediu sigilo. Poucos dias depois, disse a ele que deveríamos providenciar um segurança para tomar conta daquela dinheirama. Eu estava preocupado porque a sede do partido podia não ser um lugar seguro para guardar o dinheiro. Ele me respondeu: 'O dinheiro já não está mais aqui no PTB'. Não sei para onde ele levou", declarou Palmieri à CPI do Mensalão.

Palmieri disse acreditar que Jefferson não tenha distribuído o dinheiro aos políticos do PTB. "Depois que o deputado Roberto Jefferson disse que o dinheiro não estava mais lá, não tive mais informações sobre isso", garantiu o tesoureiro. "Desconheço que tenha sido repassado para políticos. Sei que chegaram R$ 4 milhões ao PTB. Só o Roberto Jefferson sabe onde foram. Ele ficou com a chave do cofre", disse Palmieri. O tesoureiro disse que nunca ouviu falar que o dinheiro pudesse ser usado para pagar mesada a deputados da base aliada.

Segundo o dirigente petebista, as notas foram levadas por Marcos Valério e estavam envolvidas em fitas do Banco Rural e do Banco do Brasil. Marcos Valério negou em todos os depoimentos ter levado dinheiro vivo ao PTB e diz que tem como provar que não esteve em Brasília nos primeiros dias de julho do ano passado.

Palmieri disse que o dinheiro seria usado para ajudar na campanha de petebistas, mas acredita que o deputado Roberto Jefferson estivesse esperando a chegada dos recibos que teriam sido prometidos pelo então presidente do PT, José Genoino. "Enquanto os recibos não chegassem, Jefferson receberia como pessoa física. Os recibos não vieram. Acredito que não houve distribuição. Também nunca recebemos o resto do que foi combinado com o PT, que prometeu dar R$ 20 milhões em quatro etapas."