Título: 'Em Lisboa, Valério disse que era representante do PT'
Autor: Ana Paula Scinocca e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A8

CACIFE: O primeiro-secretário e tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, disse ontem à CPI do Mensalão que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza apresentou-se como representante do PT quando esteve na sede da empresa telefônica Portugal Telecom, em Lisboa, para participar de uma reunião em que seria acertada uma ajuda ao PT e ao PTB para saldar dívidas de campanha."Chegamos à Portugal Telecom, ele disse que era o Marcos Valério do PT e as portas se abriram. Subimos direto para o último andar", contou o petebista, em depoimento de quatro horas e meia. Palmieri acompanhou Valério na viagem, em janeiro deste ano, por determinação do deputado e então presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), mas contou que, na Portugal Telecom foi "barrado" pelo empresário mineiro, recebido sozinho pelo presidente da empresa portuguesa, Miguel Horta. O advogado e sócio de Valério, Rogério Tolentino, também viajou a Portugal e ficou do lado de fora na hora da reunião que, segundo Palmieri, durou entre meia hora e 40 minutos. Segundo Palmieri, o PT e o PTB dividiriam um valor entre R$ 20 milhões e R$ 24 milhões, que seriam parte de uma comissão a ser recebida por Marcos Valério, se conseguisse intermediar a venda da Telemig Celular para a Portugal Telecom. Embora tenha dito conhecer pouco sobre a operação, o tesoureiro informal disse que o dinheiro chegaria aos dois partidos "por meio de uma tele (companhia telefônica, não especificada)" e que não haveria transferência bancária internacional de Portugal para o Brasil. Segundo denúncia de Jefferson, o acordo com a companhia portuguesa foi feito pelo ex-ministro José Dirceu. Dirceu nega qualquer envolvimento em acertos para pagamentos de dívidas de campanha.

Palmieri disse que foi escalado por Jefferson para participar da reunião com a Portugal Telecom "como testemunha" , mas foi surpreendido quando Valério impediu que participasse do encontro.

"Pensei que ele fosse participar de uma prévia e depois me chamaria.

Mas ele saiu dizendo que em 20 dias tudo deveria ser resolvido, no Brasil. Fiquei muito irritado", contou Palmieri.