Título: Valério diz que tesoureiro mente porque teme Jefferson
Autor: Ana Paula Scinocca e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A8

BELO HORIZONTE - O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza negou ontem que tenha se apresentado como "representante do Partido dos Trabalhadores do Brasil", na reunião com dirigentes da Portugal Telecom, em Lisboa, conforme disse o ex-tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, em depoimento à CPI do Mensalão. Ele acusou Palmieri de mentir por medo. Para Valério, o ex-tesoureiro "morre de medo" do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). E salientou que já alertara em entrevistas anteriores que Palmieri confirmaria a versão do deputado. "Não acertei na loteria? A a pressão sobre ele é muito grande", disse o empresário.

Valério reafirmou que esteve na Portugal Telecom, em janeiro deste ano, sondando possível manutenção da conta de publicidade da empresa, que tinha interesses na compra da Telemig Celular. O empresário voltou a dizer também que não foi recebido pelo presidente da operadora portuguesa, Miguel Horta e Costa, "por problemas de agenda dele".

"Fomos embora porque não fomos atendidos. Palmieri não entrou porque o assunto era a conta da Telemig e ele não é publicitário. Ele foi porque estava muito pressionado pelo Roberto Jefferson a respeito de dinheiro, em português claro", insistiu.

Valério afirmou desconhecer saque de R$ 100 mil de suas contas não contabilizado nas informações que ofereceu às CPIs do Mensalão e dos Correios e à Procuradoria-Geral. O saque foi feito em 30/12/ 2003, data do pagamento da primeira parcela do empréstimo que o presidente Lula tinha com o PT.

"Vou verificar. Mas uma coisa garanto: empréstimo do senhor Presidente da República eu nunca paguei."

AZEREDO

O empresário prestou depoimento ontem na sede da Superintendência da PF em Belo Horizonte. Por duas horas Valério prestou depoimento ao delegado Rodrigo Teixeira, que preside dois inquéritos abertos pela PF. Um deles se refere ao empréstimo tomado pela DNA no Banco Rural, em 1998.

O empréstimo, no valor inicial de R$ 8,35 milhões, segundo denúncias, teria sido utilizado para o caixa 2 de partidos e políticos da coligação liderada pelo PSDB na campanha à reeleição do então governador de Minas, senador Eduardo Azeredo, atual presidente nacional da legenda tucana.

Valério voltou a afirmar que Azeredo sabia do empréstimo e que passou uma procuração para o tesoureiro da campanha na época, Cláudio Mourão. O presidente do PSDB atribuiu a Mourão toda responsabilidade por irregularidades na campanha de 1998.