Título: Tesoureiro do PTB garante que Dirceu sabia de acerto milionário
Autor: Ana Paula Scinocca e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - O primeiro-secretário e tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, comprometeu ainda mais o deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil. Em depoimento à CPI do Mensalão, Palmieri afirmou que Dirceu participou dos milionários acertos firmados entre PT e PTB na campanha municipal de 2004. O petebista disse ter sido informado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em janeiro passado, que Dirceu tinha negociado com a empresa de telefonia Portugal Telecom uma ajuda financeira para que os dois partidos saldassem dívidas de campanha. Pouco depois, Palmieri recebeu de Jefferson a missão de viajar a Lisboa com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que representaria o PT na conversa com a multinacional. ¿Segundo tesoureiro petebista, Valério disse na viagem que, se o acordo evoluísse, "seriam divididos de R$ 20 milhões a R$ 24 milhões entre o PT e o PTB". Outra revelação foi de que, ao final da reunião em que o PT se comprometeu a pagar R$ 20 milhões ao PTB ao longo da campanha municipal do ano passado, o então presidente petista, José Genoino, "saiu da sala e foi telefonar para o ex-ministro José Dirceu", nas palavras de Palmieri. O ex-chefe da Casa Civil tem negado insistentemente que tenha participado de negociações com partidos aliados envolvendo dinheiro, muito menos de caixa 2. As negociações com o PT, de acordo com Palmieri, eram feitas principalmente com Genoino e com o ex-tesoureiro Delúbio Soares. "Depois, Delúbio nos apresentou a Marcos Valério e passamos a tratar com ele", contou.

"No início de janeiro, o deputado Roberto Jefferson me avisou que tinha conversado com o ex-ministro José Dirceu e eu provavelmente teria que ir na Portugal Telecom. Poucos dias depois, me avisou que eu deveria embarcar dia 24 de janeiro", relatou Palmieri. Sobre a reunião em que foi acertado o repasse dos R$ 20 milhões do PT ao PTB, Palmieri lembrou da presença de dirigentes petistas afastados depois do escândalo do mensalão: "Estávamos eu e o deputado Roberto Jefferson, com José Genoino, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno.Genoino disse que a contribuição seria de partido para partido e os recibos seriam providenciados depois. Seriam cinco parcelas de R$ 4 milhões. Depois disso, o Genoino levantou-se e disse que ia ligar para José Dirceu." Palmieri fez um depoimento totalmente afinado com a versão de Jefferson, exceto pelo fato de que disse não conhecer detalhes do mensalão. O tesoureiro informal desmentiu Valério em vários pontos e se dispôs a participar de acareação com o empresário mineiro.

Palmieri contestou a lista de saques apresentada por Marcos Valério à CPI, ao Ministério Público e à Polícia Federal. Negou, por exemplo, ter sacado R$ 2,4 milhões do Banco Rural, como disse Valério. "Esse dinheiro nunca entrou no PTB. O que entrou foram R$ 4 milhões, levados pessoalmente por Marcos Valério", contou. "Era parte do acordo dos R$ 20 milhões, mas o resto não chegou", afirmou Palmieri, repetindo depoimento de Jefferson, de quem disse ser amigo há muitos anos.

"Outra falha que apontou na lista de Valério foi a ausência de saque de R$ 145 mil feito, segundo o tesoureiro, foi pelo motorista do PTB Alexandre Chaves para, segundo Palmieri, pagar o publicitário mineiro Cacá Moreno, responsável pelo programa de televisão do partido.

Palmieri disse que Alexandre sacou ainda R$ 200 mil da conta de Valério, usados para ajudar uma "amiga íntima" do presidente do PTB José Carlos Martinez, que morreu em um acidente de avião em outubro de 2003. "O deputado Roberto Jefferson estava fazendo uma vaquinha para ajudar a moça e esse dinheiro foi sacado para ela", alegou Palmieri.

Palmieri disse que está há 30 anos no PTB e nunca assumiu formalmente o cargo de tesoureiro, mas que, em 2004, ficou encarregado da parte financeira do partido, embora houvesse dois tesoureiros formais, o deputado Eduardo Seabra (AP) e ao dirigente Wanderley Valim.

Palmieri afirmou que "nunca entrou no Banco Rural" e não conhece dirigentes dos bancos Rural e BMG. Também disse desconhecer acordos financeiros do PTB nas eleições de 2002. Palmieri isentou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Nunca ouvi o deputado Roberto Jefferson mencionar o nome de Lula", declarou. "Sobre o presidente sei apenas que ele foi a um jantar na casa do deputado Roberto Jefferson."