Título: Jeany esconde agendas e diz que nada teme
Autor: Vera Rosa e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A9

Jeany Mary Corner, a misteriosa "empresária de eventos" cujo nome surgiu na CPI dos Correios como "fornecedora de moças" para festas patrocinadas por Marcos Valério, lançou ontem uma advertência, em entrevista exclusiva ao Estado. Ela se queixou amargamente de "amigos" que a teriam abandonado, disse que anotava nomes inteiros nas suas agendas e arrematou: "Eu não tenho nada a temer." Suas agendas telefônicas e de trabalho foram entregues a seu advogado e colocadas num cofre secreto. Pelo que disse, não é difícil decifrá-las, porque lá o nome do cliente está anotado sem cifras nem código - é o nome real, acompanhado pelo nome da "recepcionista" que cumpriu a tarefa e o valor pago, sempre cash.

Ela disse que "até agora" foi "amiga dos amigos" que a teriam abandonado. "Até agora", frisa. E vai continuar sendo? "Isso eu não posso garantir ao senhor, nem a eles." Jeany relata que fez "mais de quatro" festas para Ricardo Machado, sócio de Marcos Valério, todas no hotel Gran Bittar. Nessas festas, adiantou, ele pagava em dinheiro - na base de R$ 150 por moça - as suas "recepcionistas". Segundo Jeany, o número de "recepcionistas" variava: "Na festa menor foram 4 recepcionistas, na maior, acho que 12", disse. Mas a festa que ela mais queria fazer deu errado, por culpa de Valério, relata. Foi a famosa festa da primeira semana de novembro de 2004, na suíte presidencial do Hotel Gran Bittar.

Machado lhe telefonou pedindo 23 moças. Ela diz ter feito várias gestões em outros Estados para conseguir o "fornecimento". "Cheguei a ir a Goiás, para ver se encontrava moças disponíveis. Mas no meio do trabalho Ricardo me ligou e disse que Valério tinha cancelado meu serviço e preferia fazer com dois moços de São Paulo" (os gêmeos Gustavo e Flávio, ex-participantes do programa Casa dos Artistas, do SBT).

À meia-noite, conta ela, Machado ligou desesperado, dizendo que as moças paulistas tinham armado "um fuzuê" e não estavam dando "atendimento correto". Perguntava se ela podia fornecer 23 moças àquela hora. "Era impossível. Não tinha como arranjar 23 recepcionistas no meio da noite", diz. Jeany afirma que essa festa custou R$ 185 mil a Valério.

Ela confirma levantamento de sigilo telefônico feito pela CPI dos Correios e afirma que o advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro Antonio Palocci, telefonou várias vezes para Carla, uma das "recepcionistas. E disse mais: se a pesquisa do sigilo telefônico continuar, encontrará ligações de outros assessores do ministro.