Título: CUT e UNE usam ato contra corrupção para defender Lula
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA - A manifestação contra a corrupção promovida ontem em Brasília pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e União Nacional dos Estudantes (UNE), entre outras entidades, virou ato em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ninguém vai derrubar o Lula, ninguém vai cassar o Lula. Porque, para cassá-lo, terão de passar por cima dos movimentos sociais, dos estudantes e do povo brasileiro", bradou o presidente da CUT, João Felício. "O deputado que apresentar o processo de impeachment terá de prestar contas à população", avisou, do caminhão de som. Segundo cálculos da Polícia Militar, a manifestação reuniu cerca de 10 mil pessoas, durante ato em frente ao Ministério da Fazenda, e 4 mil, já no final, no gramado do Congresso.

Como Felício, outros manifestantes de entidades como a União dos Secundaristas (Ubes) e movimento de mulheres, de negros, petroleiros, sindicatos filiados à CUT, PC do B e PT declararam-se contrários aos que querem discutir o impeachment do presidente, dizendo confiar na sua honestidade. Mas, numa engenhosa ginástica política, atacaram a política econômica e pediram punição para os corruptos.

"O orçamento para o ano que vem é uma piada. Vai acabar com a educação", atacou o presidente da UNE, Gustavo Petta, que, momentos antes, discursara defendendo Lula e atribuindo à "direita e à imprensa burguesa" a iniciativa de "derrubá-lo".

Valter Pomar, um dos vice-presidentes do PT, foi além no ataque à política econômica do governo. "O Marcos Valério incomoda muita gente; o Henrique Meirelles incomoda muito mais". Mas Pomar repetiu o mesmo coro dos outros manifestantes: "A direita brasileira quer aproveitar de uns poucos culpados para voltar ao poder. Quem são o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) e o Fernando Henrique Cardoso para falar em impeachment? A direita foi enxotada em 2002 e não vai voltar porque nós não vamos deixar."

ACM NETO

A passeata partiu da Catedral de Brasília, seguiu pela Esplanada dos Ministérios e parou diante do Ministério da Fazenda. Lá, sobraram vaias para o PFL, o PSDB e o ex-presidente FHC. O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) também foi atacado: "É ou não é, piada de salão, o ACM Neto falar em corrupção?", perguntava uma faixa.

Se ontem a manifestação foi "chapa-branca", na definição do presidente do PSTU, José Maria de Oliveira, hoje será de oposição. À frente estarão o PSTU, o Psol, partidos radicais de esquerda, o PDT e o PPS, todos de oposição. Mas o impeachment do presidente Lula não deverá ser o centro das atenções.