Título: Sarney defende mandato de Lula e adverte oposição
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A13

BRASÍLIA - Em sua primeira manifestação pública sobre a crise política, o senador José Sarney (PMDB-AP), ex-presidente da República, subiu ontem à tribuna para defender o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pedir serenidade diante de uma situação que considera comparável à que levou ao suicídio de Getúlio Vargas. Sarney louvou a cautela da oposição em relação a um eventual processo de impeachment, mas advertiu os mais exaltados: "A luta contra a corrupção não pode ser uma luta pelo poder". Sarney pediu a punição dos envolvidos nas denúncias apuradas pelas CPIs e defendeu a imediata aprovação de uma reforma política, como forma de fortalecer o Congresso e os partidos. O ex-presidente deu a seu discurso o tom de um recado aos que não acreditam numa saída positiva para a crise. Argumentou que o "Brasil é maior do que o abismo" e os fatos atuais não significarão "a tragédia nacional, a perda da esperança total do povo brasileiro".

Para Sarney, o momento é um dos mais graves, mas não o pior que já presenciou. Explicou que as instituições estão preservadas e não há risco de separação da sociedade, "capaz de descambar para violações da ordem e da segurança".

"A democracia não pode pagar o preço dos corruptos e criminosos que se valem do mandato parlamentar para vendê-lo", alegou Sarney, insistindo na necessidade de não haver indulgência nem negligência na apuração dos fatos.

Ele comparou a situação de hoje com a que levou ao suicídio de Getúlio. "Como hoje, a sensação era de que tínhamos chegado ao fim do mundo." Mas frisou que, tanto antes como agora, prevaleceu o bom senso e a superação das dificuldades. "A história mostrou que a vida continua, as dificuldades e problemas passam."

Para o senador, cabe ao Congresso adotar duas linhas de ação: punir imediatamente os culpados e promover o quanto antes uma reforma política transitória, que barateie os custos da campanha e acabe "com todo este carnaval, este espetáculo que se constrói para vender as pessoas".

"O parlamento não pode ser julgado pela imagem daqueles que o traíram, violaram seus valores, levando-o à execração pública." Ainda assim, Sarney defendeu cautela na avaliação "da linha muito tênue que separa a mentira". "Tantas notícias são divulgadas ao mesmo tempo que é um problema distinguir o fato do pseudofato. Nunca a serenidade é maléfica."

Sarney reiterou que a luta contra a corrupção "é urgente e tem de ser levada a cabo com o maior rigor". "Mas a guerra contra a corrupção não pode ser utilizada como instrumento, nem a curto nem a médio prazo, para a promoção pessoal ou partidária, sob pena de falhar em seu objetivos."

O ex-presidente foi categórico ao dizer que a crise não é institucional, mas, sim, "de conduta, de caráter,, de valores morais que violam o sistema de partidos e desmoralizam a democracia". Sarney terminou o discurso sem dar vez aos apartes. A quem insistiu, alegou que queria fazer um pronunciamento, não um debate.

CRÍTICAS

O discurso de Sarney foi duramente criticado por membros da oposição no Senado. "Nenhuma história bonita justifica a corrupção, a má-fé e a desilusão que se espalham neste País. A história não dá impunidade a ninguém", reagiu Tasso Jereissati (PSDB-CE).

A crítica mais ácida foi de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "Ele (Sarney) falhou com o Brasil dizendo inverdades sobre o governo Lula, dizendo que Lula não tem responsabilidade quando é o principal responsável." Colaborou: Gilse Guedes