Título: Reeleição seria difícil, diz d. Cláudio
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Nacional, p. A13

INDAIATUBA - O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, disse ontem, falando em entrevista coletiva em nome da assembléia-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que já é grande o clamor do povo, dos eleitores que votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque muitas esperanças depositadas em seu governo não se realizaram. D. Cláudio citou entre as frustrações por promessas não cumpridas o combate à fome e à miséria e o resgate social. "Não pode haver um retrocesso", advertiu o cardeal, depois de observar que o "Brasil vive uma democracia bastante sólida e está política e economicamente bem encaminhado".

Lula teria dificuldade para se reeleger, na opinião de d. Cláudio, se decidisse se candidatar a um segundo mandato. "Não sei se o presidente deve disputar a reeleição e acho que nem ele mesmo sabe, porque esse momento é muito difícil até para ele resolver se vai ser candidato ou não. Como Lula é sério e objetivo, vai decidir".

O cardeal de São Paulo disse que, embora haja quem esteja pensando em propor o fim da reeleição, essa questão não é fácil, porque a eleição presidencial está relativamente próxima (outubro de 2006) e não haveria tempo para se fazer a reforma política necessária. Quem votou em Lula pela sua história e se decepcionou, prevê d. Cláudio, vai pensar em outro candidato.

"Sem a reforma política, não basta botar para fora todo esse pessoal que está metido nisso (nas denúncias de corrupção), porque depois vai recomeçar tudo", advertiu o cardeal. Ele alertou para os riscos de um sistema eleitoral como atual, "porque dificilmente um partido consegue eleger o governo e uma base de sustentação - daí a corrupção".

D. Cláudio diz que o País será capaz de sair da crise. "O povo é mais forte do que a crise e mais forte que o governo. Que o povo não se fixe só nessa crise, pois o Brasil é maior do que isso. O povo quer trabalhar num Brasil que vai para a frente".