Título: Agora, começa a retirada à força
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Internacional, p. A18

GUSH KATIF, FAIXA DE GAZA - Terminou à meia-noite de ontem o prazo dado pelo governo de Israel aos colonos judeus para que deixassem voluntariamente suas casas, como parte do plano de retirada de Israel da Faixa de Gaza e de quatro pequenos assentamentos judaicos no norte da Cisjordânia. A estimativa oficial é que mais da metade dos 9.200 moradores partiu e 6 das 21 colônias foram esvaziadas. Na manhã de hoje soldados e policiais começarão a remover os moradores à força, em cumprimento ao cronograma de desocupação aprovado pelo Parlamento e pelo gabinte de governo. A meta é remover toda a população civil até o início de setembro e, depois, proceder ao desmantelamento das bases e postos militares para que o território seja entregue ao controle da Autoridade Palestina.

Ontem um grupo de extremistas atirou pedras, garrafas vazias e ovos em soldados que transportavam contêineres para a colocação dos pertences dos colonos que decidiram partir. Também tentaram impedir a entrada de caminhões de mudança. Um soldado sofreu queimaduras ao ser atingido nos olhos por uma substância desconhecida.

Momentos antes de expirar o prazo, alguns colonos religiosos foram às sinagogas dos assentamentos de Neve Dekalim e Kfar Darom, onde é forte a resistência ao plano do primeiro-ministro Ariel Sharon. Eles dançaram em torno da Torá (Velho Testamento), agitaram bandeiras de Israel e entoaram canções nacionalistas, em desafio a Sharon. Segundo o general Dan Harel, comandante da Frente Sul, Neve Dekalim será um dos primeiros assentamentos onde começará a remoção forçada.

Ao mesmo tempo, cerca de 2 mil soldados marcharam na noite de ontem através do portão de entrada de Neve Dekalim, a maior colônia da Faixa de Gaza. A polícia prendeu e algemou ontem vários oponentes, na maioria pessoas que se infiltraram nas últimas semanas na área para reforçar a resistência à remoção. Nas imediações da Faixa de Gaza, centenas de opositores do plano de desocupação continuavam tentando entrar nas colônias desse território para se unir aos manifestantes. Cerca de mil pessoas permaneceram acampadas, em protesto, diante da residência de Sharon, em Jerusalém.

O ministro da Defesa, Shaul Mofaz, disse à imprensa esperar concluir a remoção em duas semanas.

Na cidade de Gaza, centenas de palestinos comemoraram ontem oprocesso de desocupação israelense. Jovens cruzavam a cidade em carros abertos, alguns carregando fuzis e mostrando lançadores de foguetes. Os grupos radicais palestinos, como o Hamas, têm mantido a trégua firmada com a Autoridade Palestina e não estão atacando as colônias.