Título: Brasil ainda mantém a liderança mundial das taxas
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

O Brasil mantém a incômoda liderança no ranking mundial dos juros. Segundo levantamento da consultoria GRC Visão, o País tem juros reais de 14,16% (taxa Selic, descontada a expectativa de inflação para os próximos 12 meses). O Brasil fica muito à frente do vice-líder, a China, que tem juros reais de 5,96%. Mas os chineses têm um bom motivo para manter juros reais altos. A China vem elevando bruscamente sua taxa de juros para evitar um superaquecimento da economia, que cresce acima de 8%. Já o PIB brasileiro deve encerrar o ano com crescimento de 3%.

Juros altos desestimulam investimentos no setor produtivo, pois os investidores preferem manter seu dinheiro no mercado financeiro, que rende mais e é menos arriscado, explica Thiago Davini, analista econômico da GRC Visão.

Em terceiro ligar no ranking fica o México, com juros reais de 5,42%, seguido da Turquia (4,48%), África do Sul (4,15%), Hungria (4,02%), Polônia (3,40%), Austrália (3,30%), Israel (3,24%) e Índia (2,96%). "Essa diferença gritante nos juros explica em parte a valorização do real, já que investidores estrangeiros têm vindo para o Brasil, de olho no diferencial das taxas", diz Davini.

Mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza os juros em 0,25 ponto porcentual hoje - uma das apostas dos analistas -, a posição do Brasil não vai mudar. Com uma redução de 0,25 ponto porcentual na Selic, a taxa real cai para 13,91%. Com corte de 0,5 ponto porcentual, os juros reais serão de 13,68%.

Alex Agostini, economista-chefe da Global Invest, acredita que o Copom vai reduzir a Selic, hoje, em 0,25 pontos porcentuais. Essa redução na taxa básica geraria uma economia de R$ 1,3 bilhão em pagamento de juros sobre a dívida do governo, nos próximos 12 meses. Neste ano, o aumento de 2,5 pontos porcentuais na taxa Selic gerou um aumento de R$ 12,6 bilhões de pagamento de juros.

Agostini acredita que o BC teria todos os motivos para reduzir os juros hoje. "Temos quatro meses seguidos de deflação nos índices gerais de preços (IGPs) e os IPCs estão muito baixos", diz Agostini. "Além disso, as expectativas de inflação estão muito próximas da meta fixada."

De acordo com dados do Banco Central, o governo pagou US$ 65,1 bilhões em juros sobre a dívida mobiliária (em títulos) de janeiro até junho.

A dívida chegou a R$ 905,5 bilhões em junho, último número disponível. Isso equivale a quase metade de tudo o que o Brasil produz em um ano - 47,7% do PIB. Em junho, 55,1% da dívida estava indexada à Selic, ou seja, variando de acordo com a taxa estabelecida pelo Copom.