Título: Juros aos consumidores estão estabilizados, mas na alta
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Duas pesquisas divulgadas ontem mostram que as taxas de juros ao consumidor se estabilizaram em julho e agosto, porém em níveis elevados, especialmente agora que os índices de preços registram deflação e, com isso, o custo real dos financiamentos aumenta. No cheque especial, o consumidor paga hoje juros de 8,29% ao mês ou 160,14% ao ano, a mesma taxa de julho, segundo pesquisa da Fundação Procon de São Paulo. No empréstimo pessoal deste mês, o custo médio mensal do financiamento é de 5,44% ou 88,87% ao ano. Nesse caso, houve um ligeiro aumento, de 0,01 ponto porcentual ante julho. O levantamento inclui 10 instituições financeiras e foi feito nos dias 4 e 5 deste mês.

Apesar da relativa estabilidade das taxas na comparação com julho, o nível atual é superior ao do ano passado, observa a supervisora de Pesquisas do Procon-SP, Cristina Rafael Martinussi. Em agosto de 2004, o juro médio mensal do cheque especial estava em 7,99% e, no empréstimo pessoal, a taxa estava em 5,16%.

Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Contabilidade e Administração (Anefac) também divulgada ontem, mas só que referente ao mês de julho, mostra a manutenção dos juros médios ao consumidor pelo terceiro mês consecutivo em 7,66% ao mês ou 142,47% ao ano.

Das seis linhas de crédito pesquisadas, três delas tiveram os juros elevados. No cartão de crédito, a taxa mensal passou de 10,26% em junho para 10,32% em julho; no cheque especial, os encargos passaram de 8,22% ao mês para 8,24% em igual período. No crédito direto ao consumidor (CDC) oferecido pelos bancos, os juros que eram de 3,64% ao mês em junho subiram para 3,67% em julho.

Segundo o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira, os ajustes foram pontuais, em função do quadro de inadimplência mais negativo. Já os juros do comércio foram mantido em 6,13% ao mês, especialmente por conta da forte concorrência, observa.

Na análise do vice-presidente da Anefac, o crédito consignado teve impacto nos empréstimos pessoais concedidos pelos bancos e financeiras, pressionando as taxas para baixo. No primeiro caso, a taxa que estava em 5,83% em junho, caiu para 5,80% em julho. No empréstimo pessoal das financeiras, o juro mensal era 11,85% em junho e caiu para 11,82% em julho.

"O mercado está em alerta", diz a técnica do Procon-SP. Na prática, tanto instituições financeiras como lojas aguardam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a Selic, antes de tomar qualquer medida. A reunião que começou ontem termina hoje.

Oliveira concorda com Cristina. Ele lembra que, no início do ano, tanto lojas como bancos se anteciparam ao corte de juros acreditando que o Copom iria reduzir a taxa básica que hoje está em 19,75% ao ano. Tiveram, no entanto, as expectativas frustradas e hoje não querem se arriscar, com o agravamento da crise política.