Título: Petrobrás foge do petróleo importado
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Economia & Negócios, p. B7

RIO - A Petrobrás passou incólume à disparada do preço do petróleo no segundo trimestre graças à utilização de um volume maior de petróleo nacional, mais barato, em suas refinarias. A empresa informou ontem que o custo do petróleo brasileiro foi, em média, de US$ 43,04 por barril, ante US$ 51,63 do Brent (referência internacional). No segundo trimestre, 81% do petróleo processado pela estatal foi produzido no País. A marca decorre de um programa de investimentos na adequação das instalações de refino que prevê aportes de US$ 8,5 bilhões até 2010. A estratégia é adequar os equipamentos para o pesado petróleo nacional, reduzindo a necessidade de importações de óleo leve.

"Quando a diferença de preços entre o petróleo leve e o pesado se amplia, há um estímulo às refinadoras para processar mais óleo pesado", destacou o gerente de abastecimento da estatal, Alípio Ferreira.

No segundo trimestre de 2004, só 73% do óleo processado era nacional. Com a disparada do preço do produto, a necessidade de aproveitar a produção própria aumentou. "As margens de refino hoje são bem melhores para quem processa óleo pesado e a Petrobrás tem investido para se capacitar para isso", disse o diretor-financeiro da empresa, Almir Barbassa.

O preço médio dos derivados vendidos pela companhia foi de US$ 55,27 por barril no trimestre. Ou seja, mesmo acrescentando o custo de refino de US$ 2,01 por barril, a estatal conseguiu margem média de US$ 10 em cada barril de petróleo nacional utilizado em suas refinarias. Se usasse só o Brent, teria a margem reduzida para US$ 1,67 por barril.

Essa estratégia garantiu à Petrobrás um aumento de 25% no lucro da área de abastecimento, responsável pelo refino e exportação de petróleo e derivados, que atingiu R$ 1,9 bilhão no trimestre. Permitiu, também que os preços da gasolina, do diesel e do GLP, que representam 70% de sua receita com derivados, ficassem estáveis no período.

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, não quis dizer se a estratégia conseguirá segurar os preços daqui em diante. "O resultado refere-se ao período de janeiro a junho; já estamos em agosto", desconversou, ao ser indagado se o desempenho da empresa no semestre - lucro recorde de R$ 9,9 bilhões - eliminava a necessidade de reajustes.

O gerente da área de exploração e produção, José Luiz Marcusso, preferiu a cautela ao analisar os superávits comerciais da companhia, que se repetem há dois trimestres. Segundo ele, a estatal ainda não produz petróleo para abastecer o mercado brasileiro. Isso só ocorrerá em 2006.