Título: Um ano após massacre de sem-teto, polícia investiga mais três mortes
Autor: Luciana Garbin e Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Metrópole, p. C4

Não há presos nem denúncia na Justiça. Um ano depois do massacre de sete moradores de rua no centro de São Paulo, o que existe são mais mortes. Policiais militares executaram uma das testemunhas do crime 13 dias depois que três de seus colegas, acusados da chacina, foram soltos pela Justiça. Outra testemunha está desaparecida, uma terceira pode ter se matado e até um guarda-civil, que contou detalhes sobre o esquema de segurança clandestino no centro, morreu num assalto ainda não esclarecido. A polícia acredita que uma quadrilha formada por PMs e vigias envolvidos em extorsão, tráfico de drogas e segurança clandestina está por trás dos ataques, ocorridos em 19, 20 e 22 de agosto. Dos oito sobreviventes, só um continua na rede de atendimento da Prefeitura. Um outro vive numa comunidade religiosa no interior. Os demais não se sabe onde estão.

Apesar da mobilização causada pelo massacre, a situação na rua continua dramática. Bem diante da Prefeitura, centenas de pessoas dormem sobre cobertores toda noite. "Um ano depois, não podemos dizer que houve mudanças substanciais", diz o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral de Rua.

Na primeira fase da apuração, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) indiciou pelo crime um vigia, Francisco Luiz dos Santos, e os PMs Marcos Martins Garcia e Jayner Aurélio Porfírio. Presos em novembro de 2004, ele foram soltos por falta de provas em 10 de março - Garcia foi expulso da PM, mas por causa de um crime anterior.

Pouco depois começaram as mortes. Em 23 de março, Priscila Machado da Silva foi retirada por PMs de uma pensão no centro. Arrastada pelos cabelos até a rua, levou três tiros. Priscila tinha testemunhado a morte da sem-teto conhecida como Maria Baixinha, na Rua Barão de Iguape, em 22 de agosto.

Quatro PMs foram presos pelo assassinato de Priscila: Sandro Cornélio de Carvalho, Francisco Eduardo Peixoto da Silva, Renato Alves Artilheiro e Fábio de Souza Moreira. Eles alegaram que investigavam uma denúncia de tráfico e acusaram a vítima de ter furtado o celular de um deles.

O guarda-civil Pedro Paulo Barbosa da Silva morreu num assalto a ônibus, um dia depois da execução de Priscila. A polícia não tem pistas dos ladrões, mas não descarta a relação do caso com o massacre.

Depois veio o sumiço de outra testemunha da morte de Maria, um rapaz, visto pela última vez perto de um carro preto semelhante ao usado pelos matadores em 2004. "A quadrilha é bem maior do que pensávamos", disse o delegado Luiz Fernando Teixeira, do DHPP.

Por fim, um comerciante da Rua Tabatinguera foi achado morto em seu carro. Nessa rua, houve quatro ataques a sem-teto. A polícia espera o laudo pericial para saber se foi suicídio.