Título: Por que não é surpreendente que muitos jovens o sigam
Autor: Ulisses Iarochinski
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Vida&, p. A19

Estima-se que quase 1 milhão de jovens católicos vão estar com Bento XVI em Colônia. Estranho paradoxo para estes nossos tempos! Um velho, com idéias pouco simpáticas à mentalidade moderna, atraindo jovens ao seu redor. Pareceria mais lógico que os jovens se afastassem dessa pessoa, ao invés de procurá-lo e dar-lhe demonstrações de afeto. Na verdade, contudo, não será isso o mais natural? Não é lógico que os jovens, sempre sedentos de vida, sejam atraídos pelos velhos - testemunhas vivas do fascínio da vida, da grandeza dramática, cheia de dores e sofrimentos, mas também de amor e alegria, que se esconde em cada existência humana? Talvez o anormal seja justamente esta imagem moderna, segundo a qual os velhos parecem testemunhar apenas a decadência biológica inevitável da vida humana ou a encarnação de velhos preceitos morais ultrapassados.

Se olharmos o mundo com olhos adequados, livres de preconceitos, abertos às intuições de nossos corações, veremos nesse encontro do papa com os jovens a coisa mais natural, mais espontânea e humana, deste mundo globalizado. Jovens sempre se fascinaram por pessoas mais velhas que representassem a sabedoria da vida, sempre procuraram aqueles que poderiam lhes dizer "viver vale a pena, eu sei porque vivi". Na sociedade global, um homem que represente um sinal como esse se torna facilmente um "ícone global".

João Paulo II, de uma forma inesperada que os católicos não podem deixar de creditar à Providência Divina, representou para os jovens essa possibilidade de superar o "achatamento" das personalidades, a conformação ao fosso da mediocridade, que nos oferece o mundo individualista e conformista do fim do século XX. Sua mensagem soou, aos ouvidos dos jovens, como "não tenham medo", "vocês foram chamados para algo grande, algo que vale a pena ser vivido" ou "existe um amor maior do que qualquer lógica utilitarista". Seu porte imponente nos primeiros tempos combinava com esse chamado à grandeza da vida. Sua debilidade dos últimos tempos o tornou, para os jovens que se haviam deixado fascinar por ele, uma contundente confirmação da verdade daquelas palavras, pois era evidente, naquele velho, que a grandeza da vida superava os limites da carne. E, no último momento, João Paulo II deixou claro para todos que havia um profundo laço afetivo, uma consonância de corações, entre ele e os jovens. Ele os amava e eles se reconheciam amados por ele, ele lhes doava a vida e eles reconheciam a herança que ele lhes deixava.

Bento XVI, mais do que sucessor de João Paulo II, numa visão político-organizacional da continuidade apostólica, é claramente seu herdeiro. E os jovens são talvez a parte mais bela e comovente dessa herança. Na homilia da missa de início de seu ministério papal, ele recorda explicitamente João Paulo II, para, em seguida, dirigir-se aos jovens. "Eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira."

Essa mensagem e a grandeza humana daqueles que a proclamam garantem o sucesso de João Paulo II e Bento XVI entre os jovens. Não é surpreendente que muitos jovens os sigam, mas é deprimente que esse fato pareça tão estranho para alguns, pois isso significa que estamos tão fechados dentro de nós mesmos que não percebemos a grandeza da vida quando esta se oferece a nós de forma surpreendente.