Título: Um papa sorridente chega a Colônia
Autor: Ulisses Iarochinski
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Vida&, p. A19

COLÔNIA - Como o pescador Pedro, o papa Bento XVI fez seu primeiro encontro com a juventude nas águas do rio. Em ambas margens do Reno jovens de 197 países o receberam com certa frieza. Mais pela distância do barco do que pelo entusiasmo que transparecia em cada semblante nas horas que antecederam o passeio papal, com muito canto e louvação. "Esperamos tanto por este momento e nem vi o papa. Não sei nem em qual dos barcos ele estava", disse Rosângela Alcântara, de Goiânia, que veio a Colônia com outros 30 jovens para a 20ª Jornada Mundial da Juventude. Cercados de forte esquema de segurança, que inclui helicópteros, lanchas, cachorros e agentes à paisana, cinco barcos - simbolizando os continentes em que a Igreja Católica está presente - subiram o rio. Cerca de 500 mil jovens acompanharam o trajeto, segundo a polícia.

No alto do primeiro barco, Bento XVI, de 78 anos, permaneceu quase o tempo todo em pé. Sem demonstrar cansaço, levantou várias vezes os braços em saudação aos jovens de ambas as margens do rio. Com um amplo sorriso, parecia querer ser visto pelos milhares de jovens, mas apenas os da margem esquerda conseguiram identificar a figura vestida de branco. Os da outra margem apenas reagiram quando, nas centenas de alto-falantes espalhados ao longo do rio, se pôde escutar a voz do papa.

No atracadouro de Poller Rheinwiesen, o papa se dirigiu aos jovens em alemão, inglês, francês, espanhol e italiano. Os dispersos grupos brasileiros nas duas margens ainda gritaram: "Em português, por favor!" Apesar de o Brasil ser o maior país católico do mundo, o que menos se ouve por aqui é o português.

Em sua primeira viagem internacional - e a primeira visita à terra natal -, Bento XVI fez um apelo aos jovens para se orientarem pelos valores do cristianismo. "Estou muito alegre de me encontrar com vocês aqui, em Colônia, nas margens do Reno. Vocês vieram de várias partes da Alemanha, da Europa, do mundo, como peregrinos iguais aos reis magos do Oriente. Seguindo suas sendas, vocês querem descobrir Jesus. Vocês aceitaram seguir o caminho para poder contemplar, pessoal e comunitariamente, o rosto de Deus, manifestado no menino do presépio. Como vocês, eu também me pus no caminho para, com vocês, ajoelhar-me ante a hóstia consagrada, na qual os olhos da fé reconhecem a presença real do Salvador do mundo."

Num outro momento, relembrou seu antecessor. "De modo particular, o papa João Paulo II os convidou a vir a Colônia e eu os agradeço por isso."

A cada idioma em que ele reiniciava sua saudação, os jovens das respectivas línguas o aplaudiam. Os brasileiros não tiveram esse privilégio, como também os poloneses e coreanos.

São tantas línguas que o contato dos brasileiros que não falam inglês com os outros é quase impossível, como alega Paula Pereira Serafim, de São Paulo. "Vim para rezar e louvar Deus, mas nada impede que eu faça amigos. Mas a barreira da língua é um problema. Só consegui e-mail de um italiano e de um chileno, mas queria mesmo era destes loiros alemães maravilhosos!"

SIMPATIA

Para a cabo-verdiana Isabel Monteiro, da cidade de Praia, Bento XVI é diferente de João Paulo II. "Ainda não posso nem gosto de fazer comparações, mas João Paulo II foi um papa que, além de criar estas jornadas da juventude, estava sempre muito próximo dos jovens. O polonês era muito mais simpático. Afinal, ele é o patrono de nosso grupo de jovens de Cabo Verde."

Para o italiano Paulo Faccetta, de Bolonha, João Paulo II fez tanta coisa e era muito mais simpático. "Esperamos que a frieza de Bento XVI se derreta e ele faça como fazia João Paulo II, que abraçava e beijava as crianças."

Também para a polonesa Barbara Wajda, de Tarnów, não há como comparar simpatias. "João Paulo II era como nós. Veja como todos nos sorriem quando passam, porque, acho, temos um pouco dele. Queremos abraçar todos os nossos amigos do mundo. Apesar de dizerem que viemos em pouco número para Colônia, achamos que somos quase 30 mil aqui. Queremos que a próxima viagem de Bento XVI seja para Cracóvia e estamos aqui especialmente para convidar todos para que também conheçam a terra de Karol Wojtyla, o Santo João Paulo."

REI DO FUTEBOL

O brasileiro Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, também desembarcou em Colônia. De trem. No meio do tumulto normal da pequena praça entre a estação central de trens e a milenar catedral da cidade, Pelé foi saudado como majestade. Aos jornais alemães, que estamparam sua foto, disse estar muito feliz de compartilhar este momento único com o novo papa. "É maravilhoso que eu esteja aqui. A cidade e os jovens são fantásticos. Para mim é uma grande honra participar desta festa com a juventude."

Hoje de manhã, Bento XVI vai a Bonn, onde se encontra com o presidente Horst K¿hler. Retorna a Colônia para um ato histórico: entrar na sinagoga da cidade. À tarde, ele visita a Igreja de São Pantaleão e se encontra com estudantes do seminário. Volta a se encontrar com a juventude apenas no sábado à noite, durante a vigília no Campo Mariano, nos arredores de Colônia. No domingo, ele preside uma missa ao ar livre. Espera-se um público de cerca de 1 milhão de pessoas.