Título: Sol de Gaza derrota resistente
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Internacional, p. A16

NEVE DEKALIM, FAIXA DE GAZA - Era para ser seu último dia em Gaza. Mas ele se plantou no telhado da única casa que já conhecera e declarou que seria preciso todo o Exército israelense para tirá-lo de lá. Os parentes e irmãos haviam saído dois dias antes, resignados com inutilidade de resistir à determinação de Ariel Sharon de tirar os colonos judeus da Faixa de Gaza.

Mas Ifrach, de 23 anos, estava determinado a não partir tão silenciosamente, enquanto 3 mil soldados e policiais ocupavam as ruas do maior assentamento de Gaza, Neve Dekalim, para remover as 350 últimas famílias.

"Não vamos desistir sem luta", disse ele. "A terra de Israel está em perigo. Geralmente, nós obedecemos a lei, mas esta lei é anti-semita. Não vou sair, a não ser que alguém me arraste." Alguns de seus amigos se juntaram a ele no telhado. Yaron Olami, membro do conselho na cidade israelense de Herzelia, e Oren Hazan, filho de um parlamentar israelense, gritavam palavras desafiadoras depois de pintar slogans nas paredes: "Sharon é um ditador" e "Soldado, olhe para dentro de seu coração".

Mas depois de Ifrach passar cinco horas no sol, um policial gritou para ele perguntando o que achava de descer do telhado. O jovem cobriu-se com a bandeira israelense, começou a chorar e desceu nos braços de um soldado. Os outros o seguiram.

Foi uma peça de teatro reencenada de diferentes formas em boa parte de Neve Dekalim, com os colonos exibiando publicamente sua dor em deixar os lares e despejanado sua ira no primeiro-ministro, no Exército e em quem quer que decidissem culpar. Mas quase todos embarcaram nos ônibus sem resistência e deixaram Gaza definitivamente. Até o anoitecer de ontem, a maior parte das famílias havia partido.

Quase não houve violência, exceto quando, pela segunda vez neste mês, um israelense externou sua raiva com o fato de "judeus expulsarem judeus" e atirou nos árabes. Sharon condenou o assassinato de quatro palestinos, na Cisjordânia, como um ato terrorista.

Duas semanas atrás, um soldado israelense matou quatro árabes em um ônibus em protesto contra a retirada de Gaza.

O Exército e a polícia treinaram para a retirada durante semanas e os jovens militantes logo foram encurralados na sinagoga do assentamento.

Vários fugitivos foram pegos e obrigados a sair de Israel.