Título: Desocupação não significa só alegria para palestinos
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Internacional, p. A16

A saída dos colonos da Faixa de Gaza prossegue sem incidentes maiores. À tristeza dos judeus responde o júbilo dos palestinos. Não é todo dia que Israel abre mão de um de seus espaços. Mas a alegria, a febre e a impaciência dos árabes causam um certo medo. Nada garante que o futuro sorri para os palestinos. O governo do presidente Mahmud Abbas, sucessor de Yasser Arafat, que já era frágil, foi ultrapassado pela situação. A Autoridade Palestina está dilacerada entre facções. A Fatah, o grande partido nacionalista palestino, está em guerra aberta contra ela mesma: seus chefes acertam as contas por intermédio de milícias e serviços de segurança. As armas estão por toda parte. O que se assiste é o surgimento de uma situação à libanesa, à somali ou à afegã: nascem "chefes de guerra". Eles sabem que este é o momento de confiscar os lugares e os benefícios. Em cada bairro, em cada rua, um líder pretende falar em nome de todos.

Essa anarquia que se instalou desde a morte de Arafat, está sendo loucamente atiçada pela alegria ilusória que acompanha a retirada. Os chefes militares atribuem a si todo o mérito pela partida dos israelenses. Cada um sonha controlar a Gaza libertada. E não há apenas a Fatah. Há os grupos armados que estão recuperando fôlego. O objetivo do poderoso Hamas não é tomar o poder, mas enfraquecer a AP para "islamizar" a sociedade.

A todas essas incertezas, soma-se uma outra e decisiva: o que vai acontecer com a economia de Gaza? A taxa de fecundidade é de 5,6 filhos por mulher. Portanto, é preciso multiplicar a oferta de empregos para essa população em expansão.