Título: Superávit com o exterior é recorde
Autor: Adriana Fernandes e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

BRASÍLIA - Com o impulso da balança comercial, o Brasil obteve, em julho, um superávit recorde de US$ 2,59 bilhões na conta de transações correntes do País com o exterior. Essa conta registra o resultado das exportações e importações, assim como receitas e despesas com serviços (viagens internacionais, fretes e seguros), pagamentos de juros e remessa de lucro e dividendos. Foi o maior saldo positivo em um único mês desde 1947, quando o Banco Central (BC) começou a apurar esse indicador econômico, considerado um dos mais importantes para análise da economia de um País. O superávit foi 43,44% maior do que de julho de 2004.

Se forem também consideradas as despesas de capital nas transações do Brasil com o exterior, o balanço fechou julho com saldo negativo de US$ 5 bilhões. A razão desse resultado foi o pagamento antecipado de US$ 4,97 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). No ano, entretanto, o balanço de pagamentos tem superávit de US$ 4,62 bilhões.

Apesar das previsões pessimistas de que a valorização crescente do real afetaria o desempenho das contas externas do País, os números divulgados ontem pelo BC mostram que não houve deterioração da trajetória de resultados positivos iniciada em 2003. No acumulado de janeiro a julho deste ano, o superávit em transações correntes é de US$ 7,87 bilhões, também recorde para o período. O saldo acumulado no ano já é 26,62% superior ao obtido no mesmo período de 2004.

O bom desempenho das contas externas neste ano vem sendo sustentado pelas exportações, suficientes para compensar os gastos maiores com juros e remessas de lucro ao exterior. Também foram suficientes para enfrentar o aumento na conta de serviços, que inclui viagens internacionais, aluguel de equipamentos e royalties e licenças.

Além disso, as importações estão em volume aquém do inicialmente esperado, explicou o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes. "O superávit reflete basicamente o recorde de US$ 5 bilhões da balança comercial", disse Altamir.

Com os números favoráveis do comércio exterior, o BC voltará a rever, em setembro, a sua projeção de superávit de US$ 4 bilhões de transações correntes para o 2005. Em 12 meses até julho, o superávit acumulado é de R$ 13,39 bilhões. Para agosto, a estimativa é de que o superávit de transações correntes será de US$ 1,4 bilhão.

Segundo os dados divulgados ontem, as remessas de lucros e dividendos por multinacionais ao exterior, que vinham elevadas nos últimos meses, caíram em julho para US$ 681 milhões. No ano, já somaram US$ 6,79 bilhões, ante US$ 4,08 bilhões de janeiro a julho de 2004.

Para o BC, a saída de recursos reflete os bons resultados obtidos no ano passado pelas empresas estrangeiras instaladas no País, que aproveitaram o dólar mais barato para remeter parte dos lucros às suas matrizes. Já as despesas com viagens internacionais continuam elevadas porque o brasileiro está aproveitando o dólar mais barato. Em julho, os gastos foram de US$ 188 milhões e, no ano, já somam US$ 408 milhões. De janeiro a julho de 2004, totalizaram US$ 345 milhões. Em julho do ano passado, foram de apenas US$ 25 milhões.