Título: BNDES tem lucro recorde de R$ 1,8 bilhão no 1.º semestre
Autor: Nilson Brandão Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Economia & Negócios, p. B5

RIO - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) obteve o lucro recorde de R$ 1,831 bilhão no primeiro semestre deste ano. Esse resultado é 30% superior ao do mesmo período de 2004 e também ao R$ 1,498 bilhão registrado em todo o ano passado. Para 2005, o banco prevê crescimento dos desembolsos de 20% a 25%, o que levaria as liberações para acima de R$ 50 bilhões. A maior parte do lucro é proveniente da carteira de renda variável (ações) da BNDESPar, braço de participações do banco. Essa carteira rendeu R$ 847 milhões, resultado de dividendos, juros sobre o capital e equivalência patrimonial, com destaque para a Vale do Rio Doce e a Petrobrás. A maior parte desses investimentos foi feita no passado, explicou o presidente do banco, Guido Mantega.

"O objetivo do banco não é a obtenção do lucro, mas subsidiar o desenvolvimento. E essa missão está sendo cumprida. Operamos com as menores taxas de juros do mercado, menores spreads e, mesmo assim, tivemos esse resultado", disse.

Segundo ele, graças ao resultado da renda variável foi possível reduzir as taxas do banco. Na renda fixa, o resultado foi de R$ 611 milhões, sendo R$ 344 milhões de empréstimos, R$ 200 milhões da redução de provisão de riscos de crédito e R$ 67 milhões da variação cambial.

O lucro líquido teria chegado a R$ 2,3 bilhões se não fosse a mudança na forma da contabilização do ganho com a permuta de debêntures da Vicunha por ações da CSN. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou que o valor fosse contabilizado pelo custo de aquisição e não pelo valor de mercado, resultando numa diferença de R$ 438 milhões. Também foi necessária a contingência de R$ 387 milhões "em virtude de mudança na expectativa de desfecho" em ações judiciais.

Mantega explicou que o lucro de 2004 foi transformado em dividendos e serviu para reforçar o superávit do governo. Dessa forma, não foi incorporado ao patrimônio. Ele comentou que pretende incorporar o resultado deste ano.

DESAFIO

Esta semana, o presidente Lula questionou se o BNDES iria superar o desempenho de 2004, na gestão Carlos Lessa. "Ele fez uma brincadeira comigo, dizendo: "Veja lá se você não vai fazer menos que o seu antecessor', sabendo que nós estamos fazendo mais". Mantega disse que conversa semanalmente com Lula e o informou dos resultados em julho, de crescimento de 50% ante julho de 2004.

A questão é que a meta inicial do banco era liberar R$ 60 bilhões este ano. Até julho, só 40% haviam sido liberados. "O orçamento é um limite; não há problema de oferta, há um problema de demanda", comentou.

COPOM

Mantega disse ter sido "uma surpresa" a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter os juros básicos em 19,75% ao ano. "Mesmo que o juro não tenha caído, há um consenso de que começará a cair em algum momento", afirmou, citando que a inflação 'está absolutamente sob controle". Disse, ainda, que, com a queda dos juros, o câmbio caminhará "para patamar mais estimulante para as exportações".

CRISE

Sobre a crise política, Mantega disse que não está afetando a economia nem o desempenho do banco e acrescentou que as liberações para a indústria estão 39% maiores. "Imagino que essa crise não vai se prolongar por muito tempo; acho que já está na fase descendente."

FUNDOS

O BNDES lançou ontem um programa de participação em fundos de investimento, com recursos de R$ 260 milhões, que poderá levantar R$ 1 bilhão para o desenvolvimento de empresas inovadoras e da cultura de capital de risco.