Título: Mercado acha que só Valério pode detalhar o esquema
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A12

Vai ser difícil traçar a origem dos recursos depositados na conta da offshore Dusseldorf Company, empresa que o publicitário Duda Mendonça confessou controlar nas Ilhas Bahamas, comprada para receber pagamento da campanha eleitoral de 2002. De acordo com fontes do mercado financeiro, as instituições que fizeram os depósitos são usadas basicamente por doleiros brasileiros, o que cria dificuldades práticas e legais para fazer o rastreamento. "A chance de saber a origem dos recursos está concentrada em Marcos Valério (Fernandes de Souza, acusado de operar o mensalão), quem supostamente transformou reais, aqui no Brasil, em dólares depositados lá fora", esclarece um importante operador de mercado, que, como outros, conhece esse tipo tradicional de operação de envio de recursos - de origem não identificada ou que não fazem parte do esquema legal - para fora do País. A conhecida lavagem de dinheiro.

Mas não há como saber mais in loco? O primeiro passo nesse sentido vai esbarrar em procedimentos legais. As regras do mercado financeiro obrigam a revelação do nome de quem possuiu uma empresa e a data de abertura. E só.

Mesmo assim, empresas similares à Dusseldorf, que Duda diz ter comprado pronta, são habitualmente controladas por escritórios de advocacia locais.

Aliás, esses escritórios já apresentam ao cliente uma estrutura pronta. Ao cliente cabe somente assinar um contrato com um "trustee". O que é isso? Como insinua a palavra que vem do inglês "trust", "confiar", trata-se de uma empresa controlada por advogados ou por uma instituição financeira responsável pela sua administração.

Dessa maneira, o "trustee" assegura ao verdadeiro dono da empresa proteção de ver o seu nome revelado. Não se sabe se esse é o caso da Dusseldorf de Duda, mas, no atual cenário, isso é irrelevante, já que o publicitário declarou de público ser sua a Dusseldorf.

O segundo passo dessa tentativa de rastreamento de recursos poderia ser por meio de exame dos recibos entregues à CPI dos Correios por Duda: a prova de que recursos foram depositados na empresa. Aí, esbarra-se em depósitos de instituições como Trade Link Bank, BAC Florida, Israel Discount Bank e outras, conhecidas no mercado financeiro por operações cambiais.

"Dificilmente alguém vai conseguir chegar a algum nome do depositante simplesmente com os recibos apresentados por Duda", assegura outro player do mercado. Portanto, a origem das transferências é a chave da questão. E essa chave continua com Marcos Valério.