Título: ACM ataca mínimo de R$ 300
Autor: Christiane Samarco, Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A15

Senador ironiza Inocêncio, que agiu para derrubar os R$ 384

BRASÍLIA - O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que propôs o aumento do salário mínimo para R$ 384,29, aprovado pelo Senado, ainda não aceita a derrota na Câmara, que restabeleceu o valor de R$ 300 previsto em medida provisória. Ele atribuiu a uma manobra do secretário-geral da Câmara, Inocêncio Oliveira (PMDB-PE), que presidiu a sessão, o sucesso da ofensiva do governo a favor dos R$ 300. "Foi o Inocêncio que não permitiu a verificação de quórum. Com votação nominal nós ganharíamos", disse, lembrando que a medida foi aprovada por voto simbólico na Câmara. Em protesto, ele enviou um telegrama a Inocêncio. "Quem está acostumado a realizar nas suas fazendas trabalho escravo não pode admitir um melhor salário para os trabalhadores. Daí meu arrependimento de tê-lo apoiado algumas vezes para que galgasse postos no PFL", afirmou no telegrama. Ele se referia ao fato de que o Ministério do Trabalho encontrou trabalhadores em regime de escravidão em uma fazenda de Inocêncio; e de que o deputado já ter liderado a bancada do PFL com seu apoio, antes de ir para o PMDB.

PEDETISTAS

Inocêncio não irritou só ACM. O PDT pediu que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara anule a votação que derrubou o mínimo de R$ 384,29, alegando que houve manipulação do resultado, com "grosseiro equívoco na apuração". Para o PDT, Inocêncio errou ao fazer a avaliação da votação simbólica, quando o resultado é aferido visualmente entre os que levantam os braços, para manifestar uma posição, e os que se mantêm quietos, para expressar opinião contrária.

O pedido do PDT não deve, no entanto, ser atendido. No entendimento da assessoria da Mesa e de deputados que estavam na sessão, o regimento não foi desrespeitado. Contrariando acordo dos líderes para fazer votação simbólica, o PDT queria votação nominal - quando cada deputado registra o voto no painel eletrônico. A votação simbólica era fundamental para aprovar os R$ 300, como desejava o governo, já que os deputados não queriam assumir o desgaste político de votar a favor de um valor menor do que o aprovado pelo Senado.