Título: Alckmin agora admite que é candidato à sucessão de Lula
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A15

Governador diz, pela primeira vez, que ficaria 'honrado' em disputar Presidência em 2006

"Ficarei muito honrado, se tiver a oportunidade de poder trabalhar para o Brasil", disse ontem o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), na primeira vez em que admitiu de viva voz que poderá ser candidato à Presidência da República na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2006. Alckmin fez menção aos outros potenciais candidatos do PSDB: "Meu partido tem bons nomes", disse o governador, ao participar de um almoço da Câmara de Comércio França-Brasil, no Hotel Sofitel, em São Paulo. No evento, Alckmin foi aplaudido por cerca de 200 empresários e diretores de empresa.

RESSALVA

A declaração foi dada em resposta a um executivo, que desafiou o governador a explicar por que a imprensa sempre dizia que ele não é um nome conhecido nacionalmente e que, por isso, enfrentaria dificuldades em vencer uma eleição presidencial. O governador disse que não queria usar o cargo público para fazer "carreirismo".

Por isso, nunca se preocupou em transformar seu nome numa liderança nacional, visitando outras regiões. "Candidatura se constrói com trabalho. Nunca me preocupei em sair de São Paulo, porque, quando você é governador, se torna um nome nacional e também constrói seu nome durante a campanha", afirmou.

Alckmin citou ex-governadores que chegaram à Presidência da República, como Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor e, em outros países, Néstor Kirchner, na Argentina, e George W. Bush, nos Estados Unidos.

O governador destacou que, "para o País cumprir sua vocação de crescimento", será necessário fazer as reformas previdenciária, sindical, trabalhista, política e melhorar a eficiência dos gastos públicos.

PESQUISAS

Em entrevista coletiva, após o almoço, Alckmin afirmou ser "óbvio" que uma boa colocação sua nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial do próximo ano o estimula a entrar na disputa.

Ressalvou, no entanto, que na maior parte das vezes, como as pesquisas são feitas com mais de um ano de antecedência, os entrevistados tendem a se lembrar mais dos nomes de candidatos que participaram dos eleições anteriores.

"A pesquisa eleitoral, antes do horário gratuito de rádio e televisão, é um farol voltado para trás. Por enquanto, considero que os players (candidatos) da eleição passada, como Lula, José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PSB) e (Anthony) Garotinho (PMDB), estão mais presentes na lembrança do eleitorado".

Ele lembrou que a escolha do candidato do PSDB à presidência será feita somente no início de 2006 e, por isso, o momento "é de cautela e muito trabalho para os potenciais candidatos".

Na palestra aos empresários e executivos, Alckmin criticou a postura paternalista de políticos, afirmando que um dos legados da eleição de 2002 é que o País rejeita um "salvador da pátria". "Não tem salvador da pátria, nem de direita nem de esquerda. O que tem que ter é trabalho e eficiência no gasto público."

Ele admitiu que a referência era dirigida ao presidente Lula, explicando, no entanto, que não quis fazer "uma referência de natureza pessoal". E assinalou: "Entendo que hoje, cada vez mais, não existe alguém que seja mais inteligente do que os outros, que tenha uma fórmula mágica no bolso, que tire solução do colete e diga que resolve tudo. O caminho é espinhoso, da perseverança, do trabalho e da eficiência em um mundo muito competitivo."

SIMULAÇÃO

Na última pesquisa CNI/Ibope, divulgada em meados de junho, Alckmin ficou com 14 pontos porcentuais na simulação de 2.º turno e o presidente Lula teve 40 pontos porcentuais. Já José Serra chegou a 30 pontos, contra 39 de Lula.

Na última versão do Datafolha, divulgada em fins de julho, Lula surgiu tecnicamente empatado com Serra, com apenas 4 pontos porcentuais à frente. Na disputa direta com Geraldo Alckmin, o presidente conquistou 20 pontos de frente.