Título: Ex-tesoureiro diz que Lula não sabia
Autor: João Domingos e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A3

BRASÍLIA - No depoimento à CPI do Mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares apresentou-se como "seguidor do presidente Lula", disse admirá-lo muito e garantiu que nunca conversou com ele sobre o dinheiro ilegal que patrocinou parte da campanha do PT e saldou dívidas de aliados. Delúbio fez questão de dizer que a campanha presidencial petista foi paga com recursos registrados na Justiça Eleitoral. "A campanha nacional não teve recursos por fora." Entretanto, reconheceu que R$ 457 mil "não contabilizados" foram usados para pagar gastos com filmes feitos por Ciro Gomes para pedir votos a Lula no segundo turno. Ciro, então no PPS e hoje no PSB, foi o quarto colocado na disputa. Delúbio foi insistentemente questionado pelos oposicionistas sobre a declaração de Lula de que se sentiu traído. "Estou sendo muito bombardeado, eu e minha família. Não me sinto traidor nem traído. Respeito muito o presidente Lula. Como seguidor do presidente, não questiono o que ele diz. A vida vai nos ensinar." Em seguida, causou alvoroço ao dar a impressão de que estava protegendo companheiros de partido que supostamente saberiam das atividades do caixa 2. "Sou fiel e faz parte da minha integridade não delatar ninguém nem questionar a opinião das pessoas. Não costumo delatar."

O ex-tesoureiro repetiu a estratégia do depoimento à CPI dos Correios de assumir toda a responsabilidade pelos repasses ilegais. Disse que o ex-presidente do PT José Genoino e que o deputado José Dirceu, presidente do partido na campanha de Lula, tinham informações sobre dívidas do PT nos Estados e de aliados, mas nunca souberam do caixa 2.

"Tratei sobre finanças com Dirceu até dezembro de 2002, quando ele deixou a presidência do partido. Ele se tornou ministro e nunca mais falamos no assunto. As notícias das dívidas de campanha chegavam à direção do partido e me foi delegada a missão de resolver o problema. A responsabilidade foi minha. Eu decidia, o Marcos Valério executava", disse Delúbio, referindo-se ao empresário responsável pelos empréstimos que somaram R$ 55 milhões e, na versão dos dois, foram a fonte dos recursos para políticos e fornecedores.

Delúbio não quis responder quando questionado se era amigo de Lula e, em outro momento, disse que o presidente é quem teria de responder. Também negou ter sido levado para o PT por Lula. "Vim para o PT pelas minhas próprias pernas. Conheci Lula na fundação do partido. Militei na CUT por anos e anos por minha conta e risco." Suspenso do PT por dois meses, avisou que não deixará o partido por iniciativa própria. "Se o partido quiser, vai me suspender ou expulsar."