Título: Após revelações à CPI, Duda perde contrato milionário com Presidência
Autor: Tânia Monteiro e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - A Presidência da República decidiu não renovar o contrato com o publicitário Duda Mendonça, que venceu ontem. A decisão faz parte de uma estratégia do Palácio do Planalto de afastar o publicitário do governo federal, depois de seu depoimento, na semana passada, em que tentou se livrar de acusações e deixou o governo e o próprio presidente Lula em situação delicada. Ainda não há definição do que será feito com os demais contratos de Duda com estatais. Mas a tendência é de que não sejam também renovados. Há quem defenda no Planalto que estes outros contratos sejam cancelados de imediato e abertas novas licitações. Só que há muitos problemas jurídicos para agir desta forma. O contrato com Duda faz parte de um pacote com outras duas empresas - Matisse e Lew Lara - e somam R$ 131,8 milhões, em 2005. Ontem, só venceu o contrato com Duda, que, não renovado, foi redistribuído entre a Matisse e Lew Lara.

Na semana que vem, vence o contrato das outras duas, que deverá ser ratificado. Esses contratos são para propagandas institucionais, de prestação de contas e ações de programas de governo.

Desde agosto de 2003, a Duda Mendonça & Associados prestava serviços ao governo Lula. A renovação do contrato - firmado com a extinta Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica (Secom), atualmente Subsecretaria de Comunicação Institucional - deveria ser automática, como no ano passado, o que não aconteceu em razão do envolvimento do marqueteiro no esquema do empresário Marcos Valério.

Em depoimento à CPI dos Correios na semana passada, Duda Mendonça admitiu crimes ao afirmar que recebeu dinheiro de caixa 2 do PT. "Fica difícil manter contrato com uma empresa que assumiu cometer irregularidades e crimes", comentou um assessor do presidente. O marqueteiro revelou que ter recebido R$ 11,4 milhões de Marcos Valério como parte do pagamento pelas campanhas que fez para o PT em 2002, incluindo a do presidente. A maior parte do dinheiro, disse Duda, o equivalente a R$ 10 milhões, foi depositada na conta Dusseldorf, no BankBoston das ilhas Bahamas, notório paraíso fiscal do Caribe.

Em 2003 e 2004, os gastos da Presidência com publicidade foram de R$ 175,2 milhões, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Do total, a agência de Duda levou R$ 85,2 milhões, o que corresponde a 48,6%.

Em 2005, a Duda Mendonça & Associados já recebeu R$ 27,8 milhões. O orçamento para publicidade programado para este ano é de R$ 131,8 milhões, a ser dividido entre as três agências. O Estado procurou Duda Mendonça, mas não obteve retorno. A reportagem deixou recado no escritório de Brasília e no de São Paulo, além de ter feito contato na sede da Comunicação e Estratégica Política (CEP), outra empresa do marqueteiro, também na capital paulista.

A agência de Duda Mendonça tem ainda outro dois contratos com o governo Lula: com a Petrobrás e com o Ministério da Saúde.

PT

Duda Mendonça começou a cuidar da imagem do presidente Lula na campanha de 2002. À época, o contrato firmado foi com a CEP no valor original de R$ 5 milhões. Mas, segundo o PT, a empresa acabou recebendo efetivamente R$ 7,085 milhões, já que os gastos ultrapassaram a previsão inicial.

O pagamento foi registrado, esclareceu o partido, na prestação de contas do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em relação aos contratos firmados, também com a CEP, para campanhas institucionais do PT, a assessoria de imprensa do partido informou que entre 2001 e 2005 somam R$ 4,4 milhões, sendo R$ 300 mil referentes a este ano.