Título: Pizzolato revela que Previ sofreu pressão política de Gushiken
Autor: Sérgio Gobetti e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - Sem a gravata borboleta que o popularizou, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato chegou a causar risos entre os parlamentares ao explicar à CPI dos Correios sua participação no esquema de repasses ao PT montado pelo empresário Marcos Valério. Mas deu um importante testemunho de como a cúpula do governo Lula - em particular o ex-ministro Luiz Gushiken - influiu o maior fundo de pensão da América Latina - a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil - a tomar uma decisão estratégica sobre sua participação acionária no setor de telecomunicações com base em interesses políticos e não econômicos. "Ele (Sérgio Rosa, presidente da Previ) foi lacônico e disse para mim que estava sofrendo muita pressão política", revelou Pizzolato, referindo-se à opção que o fundo de pensão foi impelido a fazer no ano passado entre permanecer no controle da Telemar ou da Telemig, duas das maiores empresas de telefonia do País.

Na época, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) orientou os acionistas em comum das duas empresas - como a Previ - a optarem por uma delas, já que a Lei Geral de Comunicações proíbe uma empresa de controlar duas operadoras que prestam o mesmo serviço em uma mesma região. Esse seria o caso da mineira Telemig e da Telemar, que indiretamente também opera serviços de celular em Minas por intermédio de uma terceira empresa da qual é dona, a Oi.

Os estudos internos do Conselho Deliberativo da Previ, do qual Pizzolato era presidente, apontavam a Telemar (que opera telefonia fixa no Rio de Janeiro e Nordeste) como a opção econômica mais consistente, pelo valor de seus ativos. Mas o presidente da Previ, influenciado por Gushiken, não queria abdicar de sua participação na Telemig por causa da disputa interna de poder com o grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas.

Em uma das reuniões que o Conselho Deliberativo marcou para pedir explicações de Sérgio Rosa, o presidente da Previ viajou a Brasília para discutir o assunto com Gushiken e com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Ele disse que três grupos tinham interesse em comprar ações da Telemig, mas que, naquele momento, era melhor a Previ continuar na Telemig por causa do conflito societário com o grupo Opportunity", contou Henrique Pizzolato à CPI.

DINHEIRO

Ao explicar sua participação no caso dos R$ 326 mil que recebeu de Marcos Valério, no início de 2004, um mês antes de adquirir um apartamento no Rio, Pizzolato chegou a causar risos entre os parlamentares. "Eu não sabia que era dinheiro, não sabia que era do Banco Rural. Eu fui usado", afirmou o ex-diretor de Marketing do BB.

Segundo ele, um funcionário da agência de publicidade DNA, de Marcos Valério, lhe telefonou em 15 de janeiro de 2004 pedindo um favor: que ele pegasse um pacote no centro da cidade do Rio e repassasse ao PT. A DNA era uma das principais agências de publicidade que prestavam serviço ao BB. Um office-boy da Previ foi à agência do Rural pegar o pacote de dinheiro e o levou até a casa de Pizzolato.

"Eu fiz uma gentileza, que é da índole do brasileiro", disse Pizzolato, acrescentando que não sabe quem foi, nem o sexo do mensageiro do PT que pegou o dinheiro em sua casa, naquele mesmo dia.

Sobre a compra do seu apartamento, em fevereiro, ao preço de R$ 400 mil, ele disse que pagou de duas formas: R$ 300 mil da conta no banco e R$ 100 mil em dinheiro obtido pela venda de dólares que havia reservado para uma viagem de aposentadoria com a mulher e que ele teria trocado por reais ao longo de três meses e guardado em casa, para evitar a cobrança de CPMF.

A versão de Pizzolato não convenceu ninguém, nem mesmo os petistas da CPI. "Essa tese é inconsistente. Ninguém, ainda mais um diretor de banco, fica com tanto dinheiro parado em casa", afirmou o deputado José Eduardo Dutra (PT-SP).

O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) acusou o ex-diretor de Marketing do BB de ter favorecido a DNA ampliando seu contrato de publicidade de R$ 142 milhões para R$ 200 milhões em setembro de 2004. O aditamento nessa proporção extrapola o limite de 25% da Lei de Licitações.